| 17/12/2006 11h02min
A avenida Goethe ficou tomada de colorados na manhã deste domingo, todos ávidos para assistir à grande final do Mundial de Clubes. Inter e Barcelona se confrontavam em Yokohama, no Japão, para definir quem seria a melhor equipe do mundo, no outro lado do continente. Em Porto Alegre a nação colorada esperava ávida por qualquer gol que colocasse o Inter definitivamente na galeria dos times imortais, donos do mundo.
Com esta convicção uma multidão amontoava-se diante de um enorme telão colocado na passarela do Parcão – tradicional parque da capital gaúcha. Enquanto os jogadores colorados entravam em campo todos de branco, os milhares olhavam para as cenas como se estivessem assistindo espíritos iluminados que guardavam a chave para os portais da glória.
Em campo, desde o primeiro toque na bola, ficou claro que o Barcelona seria um adversário indigesto. Toque de bola, passes claros e objetivos. De Ronaldinho a Deco, de Deco a Ronaldinho. Na rua, sob o sol, mesmo com a supremacia técnica do Barca a torcida jamais desistia. Aos 13, Pato arrematava pela primeira vez em direção ao gol espanhol. 'Uhh!'. Mas a partir daí o Barcelona começou a mandar no jogo. Aos 19, Ronaldinho cai dentro da área colorada. Vaias. Aos 27 falta para Ronaldinho nas proximidades da área. A torcida cala, mas, logo depois do erro do craque, a resposta nascia à altura com hinos de guerra.
Aos 35, mais uma vez Ronaldinho, cria gremista, ameaça. Como se estivessem no estádio, os torcedores gritavam contra o meia. Aos 40, a resposta colorada, Índio se lança ao ataque, diante da atuação apagada de Fernandão e Pato, e arremata com violência. A torcida levanta, a bola subira demais. Mesmo sem apresentar um futebol brilhante, o Inter terminara a primeira etapa sem tomar gol, se havia certa apreensão natural entre os torcedores, a confiança jamais esmaeceu.
Com a entrada de Vargas no lugar de Alex, o Inter começou melhor a segunda etapa. Com seu time mais equilibrado e atacando o temido Barca, a torcida começou a ficar mais à vontade. Muitas vaias a Ronaldinho que não conseguia superar os volantes colorados. Muitos aplausos às tentativas do Inter pois, se o Barcelona tinha a posse de bola e o controle técnico, o Colorado tinha a gana. Fernandão ficava em campo mesmo com dores para que Índio, que sangrava fosse atendido. A torcida respondia ao esforço dos jogadores com muitas canções e gritos.
Lesionado, Fernandão precisava sair. E os lamentos da torcida tornaram-se ainda maiores quando Abel Braga retirou do banco de reservas um dos grandes desafetos desta mesma torcida: Adriano Gabiru. O que ninguém imaginava é que ele, um dos mais vaiados jogadores no Beira-Rio, seria o predestinado a dar a esta mesma torcida seu maior título.
Aos 38 minutos da segunda etapa aconteceu o que céticos não esperavam, mas que a torcida sempre acreditou. O experiente atacante Iarley, aproveitando uma falha da defesa espanhola, deixou Gabiru em frente ao gol. O meia, uma aposta pessoal e Abel Braga, invadiu a área e balançou as redes desviando a bola das mãos do goleiro Valdés. Neste momento a Goethe literalmente tremeu sob os pés de milhares de colorados. Cavalos assustaram-se, cães correram, foguetes explodiram, homens vibravam intensamente. Pais e filhos se abraçavam às lágrimas, assim como casais num êxtase que começava a se espalhar em Porto Alegre – agora a 'Capital do Mundo' consagrada pelo Internacional.
Depois do gol não poderia se imaginar algo diferente do que a vitória. Em campo, de branco como espíritos iluminados, os jogadores iam fazendo com que o tempo passasse o mais rápido possível, o mais distante possível do gol de Clemer, pois o relógio agora era inimigo de Ronaldinho e seus companheiros.
E assim, segundo depois de segundo, sob os gritos cada vez mais altos da torcida, o Inter ia colocando seu nome na história. Aos 49 do segundo tempo a rua voltava a tremer. Desta vez não era o gol o motivo, mas sim o apito final do árbitro decretando que Inter era Campeão do Mundo depois de 97 anos de existência, três títulos de Campeão Brasileiro, uma Copa do Brasil e uma Libertadores mais tarde.
Depois, o que eram milhares de camisas vermelhas começavam a se multiplicar pelas calçadas, lotando os bares, comemorando a bem-sucedida epopéia colorada. Pois agora chegara a hora de eternizar pelas ruas o histórico momento.
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