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 | 24/10/2005 09h27min

Presidente do Bird pede a ricos que eliminem subsídios

Paul Wolfowitz afirma que rodada de Doha tem que ser um sucesso

O presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, pede hoje aos dirigentes dos países industrializados a eliminação dos "subsídios e outras barreiras" que prejudicam o livre comércio. Em artigo publicado no jornal britânico Financial Times, o ex-número dois do Pentágono afirma que a rodada de Doha "tem de ser um sucesso" e, para isso, é preciso permitir aos países em desenvolvimento um "maior acesso aos mercados globais".

– O comércio, e não a ajuda, é a chave para a criação de postos de trabalho e o aumento da renda (per capita). O comércio permitirá aos países pobres gerar crescimento – escreve Wolfowitz, segundo o qual "o perdão da dívida não será alcançado por si só".– O comércio ajudou 400 milhões de chineses a escapar da pobreza nos vinte últimos anos. E no Brasil, os 20% da população que vivem com menos de US$ 2 por dia querem que os países desenvolvidos lhe abram mais seus mercados para poder também superar a pobreza – acrescenta.

Wolfowitz adverte, no entanto, que a rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassará se "os países ricos virem a abertura de mercados apenas como forma de agradar a seus grupos de pressão nacionais".

– Também não terá êxito se os próprios países em desenvolvimento não passarem por reformas. É certo que os africanos, os pobres da Ásia, da América Latina e outros continentes não votam nos países ricos, mas sua pobreza tem um impacto direto (sobre estes) por outras vias, igualmente poderosas – escreve o presidente do BM.

Wolfowitz se refere em particular ao crescimento dos fluxos migratórios do mundo em desenvolvimento em direção aos países ricos, algo que qualifica de "comportamento humano lógico" porque neste último grupo de países estão as maiores oportunidades de segurança, estabilidade e trabalho.

– Os cerca de 30 mil africanos que se calcula que esperam em Marrocos e Argélia a oportunidade de entrar na Espanha são só os últimos, mas não os únicos que buscam uma vida melhor em um país mais seguro – diz Wolfowitz.

Segundo o presidente do BM, "a abertura de mercados cria novas oportunidades, e não só para que Índia e China vendam em Estados Unidos, União Européia e Japão, mas também para que Ruanda venda a Índia e China".

Para que alguns dos países mais pobres possam aproveitar plenamente as oportunidades comerciais que lhes são oferecidas, é preciso, segundo ele, prestar-lhes maior ajuda no desenvolvimento de sua infra-estrutura a fim de que seus produtos cheguem mais facilmente aos mercados, o que constitui um complemento essencial da rodada de Doha e é algo em que o Banco Mundial trabalha.

Wolfowitz recorre ainda a um argumento moral a favor de pôr fim aos subsídios e se pergunta "como se pode justificar que se destinem US$ 280 bilhões no apoio aos agricultores dos países ricos, o que equivale quase ao Produto Interno Bruto total da África e a quatro vezes toda a ajuda internacional ao desenvolvimento”.

O presidente do Banco Mundial afirma, por outro lado, que é importante prestar atenção não só ao que "se põe sobre a mesa", mas também ao que se deixa fora, e assinala que só cinco produtos agrícolas representam a metade dos US$ 280 bilhões de apoio anual aos produtores. Por isso, poucas exceções ao livre comércio já poderiam ter um efeito enorme.

–Com freqüência, um só produto recebe bilhões de dólares de subvenções - os produtores de leite recebem 39 bilhões de apoio, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, enquanto a indústria de arroz recebe US$ 27 bilhões cada ano – escreve Wolfowitz.

O presidente do BM acrescenta que os países pobres muitas vezes dependem de um só produto, que representa talvez apenas uma fração muito pequena do comércio de um país rico. Como exemplo, ele cita o algodão.

AGÊNCIA EFE

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