| 19/10/2005 07h
Os brasileiros adeptos do não resolveram se armar antes do referendo.
Estatísticas do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal mostram que o número de armas registradas este ano no país é quase quatro vezes maior do que o de 2004. O crescimento foi de 285% em relação ao ano passado.
Foram 70.405 armas registradas até outubro deste ano, contra 18.287 em todo o ano passado. É uma verdadeira corrida às armas por parte de pessoas temerosas de que o sim à proibição de venda de armamento e munição vença a consulta do próximo domingo.
O registro da arma é necessário para viabilizar legalmente a sua compra ou para legalizar uma arma que já estava de posse do dono, mas não constava dos arquivos da Polícia Federal. Essas armas usadas, aliás, são maioria nos novos registros.
São revólveres, pistolas e espingardas cujos donos nunca tinham se preocupado em legalizá-los – ou que tinham registro estadual e agora foram federalizados, como manda o Estatuto do Desarmamento (até dezembro de 2006 todos os registros estaduais devem se tornar federais ou perderão a validade).
O número de registros é irregular ao longo dos meses, mas a média – que era de 3 mil no início do ano – experimentou um salto de crescimento neste período mais próximo do referendo. Em junho foram registradas 9,8 mil armas, em julho 8 mil, em agosto 12,6 mil e em setembro, 10,6 mil.
– Esperávamos por isso. A maioria é renovação de registros velhos, mas mesmo assim as vendas incrementaram. As pessoas compram armas porque podem perder esse direito, porque os bandidos continuarão armados e porque os crimes contra o patrimônio vão aumentar se proibirem a venda de armas – comenta o advogado e economista gaúcho Frederico Aranha, um dos diretores da ONG Brasil Pró-Vida, contrária ao desarmamento.
O também gaúcho Marcos Rolim, consultor das Nações Unidas para questões de criminalidade e favorável ao desarmamento, vê um efeito positivo e um negativo nesta corrida armamentista:
– O positivo é que a maioria destes novos registros é de armas clandestinas, manipuladas por pessoas que não são criminosas. Elas vão se legalizar, o que é bom. O outro efeito, já esperado, é que muitos estão montando arsenais para se prevenir do referendo, o que é muito ruim.
O crescimento no número de armas registradas pelos gaúchos é incrível. A se julgar pela contabilidade do Sinarm, os registros aumentaram 24 vezes. Passaram de 184 armas registradas em 2004 para 4.535, até outubro deste ano.
O Sinarm diz que esse salto nos registros do Estado pode trazer embutida uma armadilha numérica: a contabilidade, que era feita em Brasília em 2004, começou a ser feita diretamente por cada unidade da federação em 2005. Alguns números podem ter sido represados, na troca de sistema.
Os gaúchos estão em terceiro lugar no registro de armas este ano, com 4.535 revólveres, pistolas e espingardas legalizadas pelos proprietários. Perdem para São Paulo e Rio de Janeiro, os campeões, de acordo com os números do Sinarm.
HUMBERTOTREZZI/ZERO HORA