| 27/09/2005 16h50min
A Metade Sul do Rio Grande do Sul está a um passo da transformação. Depois de anos baseada em monocultura e pecuária extensiva, a região vai receber este ano o terceiro investidor de peso no setor de celulose e papel. O mais recente, revelado ontem, em Porto Alegre, envolve a aplicação de US$ 50 milhões este ano no desenvolvimento de uma base florestal na parte oeste da região. Investimento que, entre cinco e sete anos, pode chegar a US$ 250 milhões e gerar uma fábrica de celulose e papel na casa de US$ 1 bilhão.
O anúncio foi feito ontem pelo presidente mundial da sueco-finlandesa Stora Enso, Jukka Härmälä, ao secretário de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (Sedai), Luis Roberto Ponte. Em discurso em inglês, o CEO do grupo, líder mundial em papel e celulose, ressaltou que o objetivo da companhia é plantar eucaliptos e pínus para, num primeiro momento, abastecer uma fábrica de celulose e, num segundo, até uma fábrica de papel.
Apesar da presença de prefeitos da fronteira oeste e da compra de duas fazendas em Alegrete, Härmälä não quis adiantar os municípios que formarão a base florestal e empregarão, em 2006, de mil a 1,5 mil pessoas.
– Os mercados nórdicos, onde concentramos esforços até agora, se mostraram insuficientes para o crescimento do nosso negócio lá – disse, explicando a compra de 50 mil hectares de terra no Rio Grande do Sul até o fim do ano e outros 50 mil hectares no Uruguai, onde investe US$ 50 milhões este ano.
Os projetos e os cronogramas, inclusive, são semelhantes. Os viveiros serão desenvolvidos no mesmo prazo nos dois países, mas as fábricas, não, por se tratar de investimentos altos, disse o vice-presidente executivo do grupo, Nils Grafström.
Sobre benefícios fiscais por parte do governo, a resposta, em um português com sotaque, foi dirigida a Ponte em um tom menos formal.
– Nada foi falado ainda, mas naturalmente vamos querer falar sobre isso – adiantou, lembrando que o destino da produção seria predominantemente o mercado externo.
– Se fizerem fábrica de papel, com mercado interno também, aí tem sentido (para o programa Fundopem) – disse Ponte.
O empreendimento da Stora Enso no Rio Grande do Sul
A base florestal
Investimento: em 2005, estão sendo desembolsados US$ 50 milhões na compra de áreas para o plantio de eucaliptos e pínus na Metade Sul, formação de viveiro e infra-estrutura. Entre cinco e sete anos, o valor chegará a US$ 250 milhões, e a base florestal terá condições de sustentar a operação de uma fábrica
Compra: duas fazendas em Alegrete já foram vendidas ao grupo e outras estão em negociação
Área: em 2005, serão adquiridos 50 mil hectares. Para a operação de uma fábrica, em até sete anos, será preciso 150 mil hectares, sendo 50 mil só para reserva legal
Plantio: começa no início de 2006
Empregos: entre mil e 1,5 mil
A fábrica
Investimento: entre US$ 900 milhões e US$ 1 bilhão
Cronograma: em cinco anos, o grupo decidirá se constrói ou não a fábrica para preparar, num período de dois anos, o início das operações. Outra fábrica do mesmo porte pode ser construída antes no Uruguai, onde a Stora Enso anunciou, ontem, um investimento do mesmo tipo.
Empregos: 2 mil empregos diretos e 8 mil indiretos
Capacidade: entre 900 mil e 1 milhão de toneladas de celulose por ano
O grupo sueco-finlandês
É líder mundial no setor de papel e celulose, atua em 40 países
Tem capacidade de produção anual de 16,4 milhões de toneladas de papel e 7,7 milhões de metros cúbicos de madeira processada
Teve faturamento de 12,4 bilhões de euros em 2004 (R$ 34,844 bilhões)
Já tem investimentos em fábrica de celulose na Bahia, em parceria com a Aracruz Celulose
Promessa verde
Veja como andam os dois outros investimentos na Metade Sul
O que já foi feito
A Aracruz tem no Estado uma base florestal espalhada por 24 municípios entre Barra do Ribeiro, onde fica o viveiro, e Camaquã, além de uma fábrica em Guaíba. Ao todo, são 160 hortos florestais numa área de 70 mil hectares, com 15 mil para preservação.
A fábrica, adquirida em maio de 2003, quando a Aracruz comprou da Klabin o controle da Riocell por US$ 610,5 milhões, tem capacidade para 400 mil toneladas por ano de celulose de eucalipto e 40 mil toneladas anuais de papel para impressão e escrita. Cerca de 98% da produção da celulose tem como destino o mercado asiático, mas a de papel é integralmente destinada ao mercado doméstico. No total, são gerados cerca de 430 empregos diretos e 1,3 mil indiretos.
O que está por vir
O Rio Grande do Sul continua na rota da Aracruz para a instalação de uma nova fábrica. O investimento de US$ 1,2 bilhão terá capacidade para produzir 1 milhão de toneladas de celulose ao ano para
mercados da América do Norte, da Europa e da Ásia.
Essa unidade fabril, no entanto, está sendo disputada por outros Estados também.
Votorantim Celulose Papel (VCP)
O que já foi feito
Desde que a VCP escolheu o Rio Grande do Sul, em abril de 2004, investiu R$ 220 milhões no Estado, criou 3,4 mil empregos (900 diretos), plantou 11,7 mil hectares de eucaliptos em áreas próprias e assinou oito convênios.
São 67 mil hectares de terras, em 14 municípios entre Rio Grande e Bagé, para a implantação da base florestal. Com mais 30 mil hectares cultivados em áreas de terceiros, a empresa tem 100 mil hectares para plantar. A meta é chegar a 140 mil hectares nos próximos cinco anos, metade para plantio de eucaliptos e o restante para preservação.
O que está por vir
Há R$ 90 milhões a serem investidos na economia gaúcha até o final do ano. Mais 12 mil hectares de eucaliptos serão plantados em áreas próprias e 5 mil hectares em terras de terceiros, sendo contratados mais cem colaboradores.
Durante a solenidade de anúncio do projeto de florestamento no Estado, a VCP não descartou a construção de uma fábrica de papel e celulose. Conforme sua assessoria de imprensa, novidades sobre uma fábrica podem sair da prancheta até o fim deste ano.
TATIANA CRUZ E THIAGO COPETTI/ZERO HORA