| 17/09/2005 15h35min
Durante os últimos 10 anos, período em que a crise financeira da Varig se agravou, 10 presidentes passaram pelo comando da companhia aérea. Todos destacaram a lealdade dos funcionários com a empresa como fator determinante para a manutenção das operações nos momentos mais difíceis.
Depois da entrega do plano de recuperação judicial na segunda-feira, o exército de colaboradores trabalha sob a ameaça de perder colegas nos próximos meses: pelo menos 1,5 mil devem ser demitidos.
Não é de hoje que se cogita a possibilidade de cortes, mas o plano materializou o encolhimento da folha e tornou ainda mais dura a vida daqueles que todos os dias buscam forças para tocar uma companhia à beira da insolvência.
No relatório que a Lufthansa Consulting - empresa contratada para participar da projeto de recuperação judicial - elaborou sobre a Varig, os funcionários viraram protagonistas simultaneamente de pontos fracos e fortes da companhia. Entre as referências negativas, estão a "falta de consciência quanto à gravidade da crise" e o "excesso de pessoal". Nos aspectos positivos, os destaques são a disposição da maioria de ajudar na recuperação e a qualificação - a empresa tem "especialistas na maior parte das áreas da aviação".
A análise revela, ainda que com aparente contradição, o dilema de um grupo de trabalhadores reconhecidos por sua excelência técnica e lealdade acima da média de outras companhias, mas vítimas de gestões que não souberam planejar a empresa no longo prazo e sem estratégia corporativa para superar as dificuldades conjunturais do setor.
Às vésperas do trágico ou exitoso desfecho da crise, os funcionários da Varig terão como inspiração um desafio que virou rotina: manter a empresa no ar no mais crítico momento da história da companhia.
PEDRO DIAS LOPES E TATIANA CRUZ - Zero Hora