| 07/09/2005 16h58min
Os critérios utilizados para a aferição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), cujos resultados relativos a 2003 foram divulgados pelas Nações Unidas (ONU), tornaram-se alvo de críticas de economistas de diferentes correntes.
Para o economista Márcio Pochmann, da Universidade de Campinas (Unicamp), o IDH se mostra, cada vez mais, insuficiente e inadequado para medir o desenvolvimento humano de um país. Segundo ele, o fato de o índice do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) levar em conta apenas a renda per capita da população, escolaridade e a expectativa de vida das pessoas abre espaço a distorções.
– Esses indicadores praticamente crescem por inércia, sem grandes esforços. Qualquer governo acaba sempre construindo uma ou outra escola, um ou outro hospital e, de alguma forma, faz o PIB crescer. Daí que o IDH é um indicador pró-governo, que mostra aspectos positivos quando o ambiente, na verdade, é negativo – diz o economista.
Pochmann lembra que 2003 foi um ano "terrível" do ponto de vista econômico e social para o Brasil, razão pela qual o IDH do país não poderia ter melhorado. Ele lembra ainda que o IDH de 2002 divulgado na época tinha como base alguns dados de 2000, colocando o Brasil na 72ª posição.
– O IDH de 2003 não poderia mostrar avanços porque, na verdade, o país regrediu. A renda per capita, por exemplo, caiu 0,8% em relação a 2002 e os juros naquele ano subiram, o que significa ganhos maiores para quem tinha capital e menores para que não possuía – argumenta o economista.
O índice da ONU, mostra ligeira alta do IDH brasileiro que passou de 0,790 em 2002 para 0,792 em 2003, mas insuficiente para tira o país da 63ª posição no ranking e alterar sua classificação de país de médio desenvolvimento humano para de alto desenvolvimento, o que só ocorrerá quando o IDH atingir um mínimo de 0,80. Pochmann observa ainda que o PNUD não observa a violência e o desemprego para calcular o IDH.
– O índice de exclusão social feita pela Unicamp em 2002, por exemplo, mostra o Brasil em 109ª posição entre 175 países observados. Uma realidade diferente da observada pelo PNUD – diz .
O economista da Unicamp enumera ainda o aumento do desemprego em 2003, a queda de renda do brasileiro ocupado e a redução dos gastos sociais, fatos que a seu ver, derrubam a tese de que o Brasil poderia ter melhorado. O embaixador Rubens Ricupero, ex-secretário geral Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) concorda com Pochmann e lembra que, em 2003, a política econômica do governo Lula teve impacto violento no nível de emprego e na renda média das famílias. E, claro, diz, em qualquer país do mundo o agravamento do desemprego gera certamente mais pobreza.
– Nos últimos oito anos houve avanços significativos nas áreas de saúde e educação no Brasil. Mas, apesar disso, o país não melhorou em termos de pobreza e muito menos em distribuição de renda – diz o embaixador.
Ricupero, hoje diretor da faculdade de economia da Faap, diz ainda que o Brasil é de longe o país na América Latina com gastos sociais mais elevados em relação ao PIB, e apesar disso, os resultados nessa área são comparáveis ao resto dos latino-americanos.
– O gastos sócias no Brasil são captados pelos remediados ( que não estão mal de vida) e os pobres acabam recebendo migalhas. Se o Brasil corrigisse essas distorções não só melhoraria a pobreza como a distribuição de renda – afirma o embaixador.
Pochmann argumenta ainda que a desigualdade não está ligada apenas ao crescimento econômico e à distribuição de renda.
– Isso é pensamento mágico. Não há experiência no mundo que prove essa premissa. Economia de mercado significa concentração de renda e essa idéia de tirar de um para dar para outro para reduzir a pobreza ou desigualdade é absurda. Como se faz isso, ainda mais num período de "financeirização" que vivemos? – indaga o economista, que acredita que o IDH precisa ser repensado.
AGÊNCIA O GLOBO