| 19/08/2005 13h37min
O promotor Sebastião Sérgio da Silveira conversou hoje com jornalistas e revelou detalhes do depoimento do advogado Rogério Buratti, que está na Delegacia Seccional de Ribeirão Preto (SP). Ele afirmou aos promotores que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, recebia propina de R$ 50 mil mensais da empresa Leão & Leão, na época em que era prefeito de Ribeirão Preto. Os recursos seriam repassados ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que os utilizaria para financiar campanhas do partido.
Buratti, que foi assessor de Palocci na prefeitura, fez um acordo com promotores para revelar tudo o que sabe sobre irregularidades em prefeituras paulistas, em troca de redução de pena. Segundo informou o promotor, o pagamento da propina era feito para que a prefeitura mantivesse o contrato de prestação de serviços de coleta de lixo com a Leão & Leão. Os pagamentos teriam ocorrido entre janeiro de 2001 e novembro de 2002, quando Palocci deixou a prefeitura para colaborar na campanha de Lula e posteriormente ser ministro da Fazenda. O dinheiro seria recebido por um outro assessor de Palocci, chamado Ralf Barguetti, morto no ano passado vítima de câncer. Seria ele quem repassaria o dinheiro para as mãos de Delúbio.
Ainda de acordo com o que contou o promotor, depois que Palocci saiu da prefeitura, o dinheiro passou a ser recebido por Gilberto Maggione, do PL, que era vice de Palocci. Esses pagamentos teriam seguido de novembro de 2002 até dezembro de 2004. O depoimento de Buratti deve seguir até o período da tarde, segundo informou o representante do Ministério Público.
Buratti aceitou a proposta do Ministério Público Estadual de delação premiada e afirmou que iria contar tudo o que sabe em troca da redução de pena e, talvez, de sua liberdade provisória, que pode ser pedida nesta sexta pelos promotores. Ele teria dito que teme por sua própria vida, e ouviu dos promotores que a melhor maneira de se proteger é falar.
Neste mês, a CPI dos Bingos e o Ministério Público identificaram telefonemas de Buratti para a casa de Palocci em Brasília. Essas ligações teriam ocorrido no período em que o contrato da GTech com a Caixa estava sendo negociado.
O advogado, que está preso desde quarta no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Ribeirão Preto, foi detido depois que o Ministério Público interceptou telefonemas dele para o corretor Claudinet Mauad, nas quais o advogado determinava a destruição de provas. Os papéis foram apreendidos pelo Ministério Público e apontam para a existência de um esquema de compra e venda que seriam indícios de lavagem de dinheiro.
Nas conversas gravadas, Buratti quer saber do corretor o que a polícia perguntou. Ele indaga, por exemplo, se os contratos apreendidos estavam assinados. E orienta o corretor para que o antigo proprietário de uma fazenda comprada por ele em Franca fale à polícia apenas sobre o valor que consta no documento (R$350 mil).
AGÊNCIA O GLOBO