| 12/08/2005 08h40min
A oposição acredita que com o depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios o governo não tem mais como evitar sua ligação com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério. Depois que Duda relatou que Valério lhe pedira para abrir uma conta num paraíso fiscal para receber dívidas do PT, parlamentares de PFL e PSDB começaram a falar abertamente na possibilidade de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O agravamento da crise também preocupa o Palácio do Planalto. Lula vai gravar um pronunciamento à nação durante a reunião ministerial desta sexta, marcada para começar às 9h, na Granja do Torto. A gravação será feita pela Radiobrás, que depois fará a distribuição para a imprensa.
Lula passou o dia em reuniões com seus principais auxiliares, como os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e da Fazenda, Antonio Palocci, além do presidente do PT, Tarso Genro. Foi Tarso, inclusive, um dos que sugeriram que o presidente faça um pronunciamento à nação, convoque imediatamente o Conselho da República, faça uma mini-reforma política e envie ao Congresso uma lei de combate a crimes financeiros.
– São declarações (de Duda Mendonça) muito graves que mostram que havia uma articulação internacional totalmente irregular, que tem que ser investigada nas suas raízes. Tem que ver o que tem por trás desse processo todo. Quem é que financia, quem é que paga. Porque esse dinheiro está lá fora, porque isso não é somente uma questão de natureza da legislação eleitoral, diz respeito a outras questões relacionadas com crimes de natureza financeira e tem que ser investigadas na sua radicalidade – disse Tarso Genro.
Líderes da oposição se reuniram e iniciaram uma ampla consulta jurídica para identificar os crimes cometidos pelo PT na campanha eleitoral e a repercussão desses atos sobre o mandato presidencial. Participaram da conversa o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), mas o tom ainda é de cautela:
– Vamos agir com prudência, mas com inflexibilidade no rumo. É inevitável o desfecho, mas não podemos ter precipitação – analisou Agripino.
O principal motivo para tantos cuidados é a avaliação de que a situação de Lula é diferente daquela que derrubou Fernando Collor de Mello em 1992. A oposição acredita que Lula ainda tem boa capacidade de mobilizar a opinião pública e teme que, ao pedir seu impeachment, termine por transformá-lo em vítima. Também há expectativa de alguma reação do presidente, como o pronunciamento marcado para esta sexta, e cuidado com a repercussão dos fatos sobre a economia.
– Se eu fosse o presidente, faria alguma coisa – disse Tasso, ponderando:
– Impeachment é coisa séria e não pode ser jogado assim. Há muito a mastigar antes disso.
As informações são da Agência O Globo.