| 11/08/2005 22h30min
Depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios, PFL e PSDB começam a falar abertamente na possibilidade de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o tom ainda é de cautela.
Líderes dos dois partidos se reuniram em almoço nesta quinta-feira e iniciaram uma ampla consulta jurídica para identificar os crimes cometidos pelo PT na campanha eleitoral e a repercussão desses atos sobre o mandato presidencial. Participaram da conversa o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
- Vamos agir com prudência, mas com inflexibilidade no rumo. É inevitável o desfecho, mas não podemos ter precipitação - analisou Agripino.
O motivo para cautela dos parlamentares oposicionistas é a avaliação de que a situação de Lula é diferente daquela que derrubou Fernando Collor em 1992. A oposição acredita que Lula ainda tem boa capacidade de mobilizar a opinião pública e teme que, ao pedir seu impeachment, termine por transformá-lo em vítima. Também há expectativa de alguma reação do presidente nas próximas horas, como um pronunciamento pela televisão, e cuidado com a repercussão dos fatos sobre a economia.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), decretou o fim do governo Lula e considerou que é impossível não tratar da discussão do impeachment a partir de agora.
- O governo acabou. Impeachment, para o PSDB, era quase um palavrão. Agora, só um brasileiro muito alienado diria que isso não existe.
Segundo o senador, está clara a prática de crimes como sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e abertura ilegal de contas externas. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou que cada vez mais se confirma a participação do governo nas irregularidades apuradas pelas CPIs.
- O presidente está desgastado, a situação do governo piorou muito, mas não desejo o impeachment de Lula, quero derrotá-lo nas urnas em 2006. Não adianta pedir o impeachment nesse momento, mas está se configurando a presença do governo nesses atos ilícitos. É preciso investigar as estatais - disse.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que o depoimento prestado por Duda Mendonça é grave. Mas ele se disse contrário à antecipação das eleições, alternativa ao impeachment que também abreviaria o mandato de Lula.
Duda Mendonça reconheceu que houve o pagamento de R$ 10 milhões, que teriam sido remetidos a uma conta nas Bahamas. Duda Mendonça disse que foi Marcos Valério que sugeriu a abertura da conta no Exterior para poder receber a dívida, correspondente às campanhas de Lula e de vários candidatos do PT. A afirmação do marqueteiro foi desmentida por Marcos Valério, que atribui a Duda o pedido de depósito no Exterior, em uma conta que Duda já teria. Duda disse que o dinheiro foi transferido de outros bancos internacionais, sem passar por instituições brasileiras, o que pode representar crime de sonegação.
Parlamentares do próprio PT se surpreenderam com as revelações do publicitário, e as consideraram "gravíssimas". O deputado Maurício Rands (PT-PE) advertiu a Duda que, além de evasão fiscal, deverá ser processado por movimentação de dinheiro ilegal e fraude contra o sistema financeiro, crimes que podem levar à prisão.
O presidente nacional do PT, Tarso Genro, também classificou como graves as declarações feitas por Duda à CPI dos Correios.
- (As denúncias) Têm de ser investigadas nas suas raízes, ver quem financia, quem é que paga, por que esse dinheiro estava fora, porque não é somente uma questão de natureza da legislação eleitoral. Diz respeito a outras questões relacionadas com crimes de natureza financeira e tem de ser investigadas na sua radicalidade -, disse o dirigente petista.
Para Tarso, a oposição tem o direito de discutir a possibilidade de impeachment.
- Nós queremos dizer que não há nenhuma legitimação nem moral nem jurídica para proposta de impeachment. Nós do Partido dos Trabalhadores vamos fazer todos os movimentos jurídicos, políticos e sociais para defender o mandato presidencial - afirmou Tarso.
Tarso disse ainda que sugeriu diretamente a Lula que faça um pronunciamento à nação, além da proposta de uma mini-reforma política. Lula já confirmou que falará no início da reunião ministerial desta sexta-feira, na Granja do Torto. A reunião começa às 9h e deve se estender até as 19h.
Políticos como o senador Pedro Simon (PMDB-RS) também afirmaram ao longo do dia que esperavam um pronunciamento do presidente até esta sexta.
Com informações das agências O Globo, EFE e do site do PT.