| 11/08/2005 19h
As declarações feitas pelo publicitário Duda Mendonça abalaram a confiança dos petistas no partido e até mesmo no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Duda revelou ter recebido dinheiro de caixa dois em uma conta no Exterior, em pagamento por serviços prestados ao PT em campanhas eleitorais. Pelo menos 15 deputados do bloco de esquerda do PT fizeram discursos emocionados no plenário da Câmara na tarde desta quinta-feira. Alguns deles não resistiram e caíram no choro, como os deputados Orlando Desconsi (RS) e Walter Pinheiro (BA).
Eles cobraram explicações da direção do partido e leram uma nota em que expressam "seu veemente repúdio ao criminoso esquema de financiamento de campanha progressivamente revelado após sucessivos depoimentos nas CPIs, sobretudo nessa data. Tais procedimentos afrontam a ética no política, traem a esperança de mais de 52 milhões de votos concedidos em 2002 e frustram a realização dos verdadeiros compromissos assumidos pelo PT em sua trajetória".
Durante o protesto do grupo mais à esquerda do PT na Câmara, os parlamentares cobraram uma postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise e das suspeitas.
– O que nós vamos dizer a nossa militância? Esperamos que Lula diga à nação tudo o que sabe ou que faça os que sabem dizerem. Nós não pactuamos com isso – disse o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP).
O deputado Nazareno Fontelles (PT-PI) contou que o grupo tinha saído de uma reunião com o presidente do PT, Tarso Genro, com alguma esperança de dias melhores, que foram abaixo depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça na CPI dos Correios.
– Nós tivemos hoje uma reunião com o presidente do PT, foi uma conversa sincera, saímos de lá com fiapos de esperança, íamos nos reunir à tarde, quando recebemos esses depoimentos que estraçalharam essa esperança. É um réquiem (ofício dos mortos) do nosso partido –afirmou.
O grupo exigiu a convocação do diretório nacional do partido para tomar medidas enérgicas contra os envolvidos nas denúncias, pediu o afastamento de todos os parlamentares cujos nomes constam da lista de sacadores das contas das empresas de Marcos Valério, suposto pagador do mensalão, e dos integrantes de CPIs que teriam dado falso testemunho. O grupo também anunciou que entregará todas as vice-lideranças do partido. O deputado Ney Lopes (PFL-RN), que assistia a tudo, não perdeu a oportunidade para provocar os adversários.
– Estamos assistindo ao velório do PT.
Na CPI dos Correios, mais petistas se mostraram desapontados com o comportamento do partido. O líder do PT no Senado, Aloízio Mercadante (SP), desabafou que nunca foi informado por seus companheiros de partido sobre as negociações de pagamento por caixa dois da sua campanha em 2002 e se disse triste e perplexo.
– Vários dirigentes e o próprio Duda Mendonça disseram que os custos da campanha eram o que estavam lá (na prestação de contas). A direção do partido foi absolutamente irresponsável. Eu lamento porque algumas pessoas eu conheço há muitos anos. E eu não entendo por que essa verdade não foi dita antes. Quando eu vejo histórias como essa eu não reconheço o PT. O PT que eu ajudei a fundar e a construir não é esse partido – disse.
Mercadante isentou o presidente Lula, mas admitiu que os dirigentes do PT em 2002 – entre eles José Dirceu, que era presidente nacional do partido – precisam se responsabilizar pelas irregularidades. O senador, porém, admite continuar líder do governo no Senado.
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), também na CPI, disse que passou mal e que se sentia desconfortável com toda a situação envolvendo o nome do partido.
– É muito difícil e muito duro estar aqui fazendo essa investigação – reconheceu.
Com informações da Agência O Globo.
Confira a íntegra da nota |
Os Deputados Federais e Senadores integrantes do Bloco de Esquerda Parlamentar do PT , expressam de público seu mais veemente repúdio ao criminoso esquema de financiamento de campanha progressivamente revelado após sucessivos depoimentos colhidos nas CPIs em curso no Congresso Nacional, sobretudo nesta data. Tais procedimentos afrontam a ética na política,traem a esperança de mais de 52 milhões de votos concedidos em 2002, frustram e impedem a realização dos verdadeiros compromissos historicamente assumidos pelo PT em sua trajetória política no País. Por isso comunicamos que estamos exigindo, junto ao Diretório Nacional do PT, as seguintes providências: • A imediata convocação extraordinária do Diretório Nacional
para discussão e tomada de providências enérgicas em relação aos fatos já conhecidos; Nesta ocasião comunicamos que estão entregues à Coordenação da Bancada todas as Vice-Lideranças que haviam sido preenchidas com parlamentares integrantes do Bloco de Esquerda. Coordenação do Bloco de Esquerda |