| 04/08/2005 23h28min
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) teve o primeiro escorregão desde que denunciou supostos esquemas de corrupção na Câmara dos Deputados, no PT e no governo Lula durante o depoimento de mais de 14 horas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Mensalão.
Jefferson entrou em contradição ao tratar do recebimento por parte do tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, de R$ 2,46 milhões entre dezembro de 2003 e agosto de 2004. Os valores constavam da lista, entregue pelo empresário Marcos Valério de Souza, das pessoas indicadas pelo PT para receber recursos oriundos dos seus empréstimos ao partido. Na quarta-feira, a diretora financeira da agência SMP&B, Simone Vasconcelos, confirmou os saques feito por Palmieri no Banco Rural.
Primeiro, ao ser indagado pelo deputado Daniel Almeida (PC do B-BA), Jefferson desafiou a diretora a provar. Sustentou a informação repassada nos depoimentos anteriores de que o PTB havia recebido, em julho de 2004, do PT, apenas R$ 4 milhões para pagamentos de campanhas e negou que integrantes do partido tenham entrado no esquema de recebimento de "mensalão". Admitiu o pagamento de R$ 200 mil, em setembro de 2003, destinados para ajudar um motorista do partido que tinha problema de saúde com a filha.
Os R$ 4 milhões, garantia Jefferson, jamais teria sido sacado na boca do caixa. Chegou a suas mãos em "malas de rodinhas" e ficou guardado em um cofre. Depois de um intervalo, indagado outra vez sobre o assunto, Jefferson disse que os R$ 2,46 milhões poderiam ser contabilizados como parte dos R$ 4 milhões recebidos.
O deputado, e presidente licenciado do PTB, afirmou à CPI que não tem como devolver os R$ 4 milhões ao PT. Ele também se recusou, outra vez, a revelar quem acabou beneficiado pela partilha que fez entre os integrantes do seu partido. Os R$ 4 milhões recebidos por Jefferson, segundo ele, seria a primeira parte dos R$ 20 milhões que o PT repassaria ao PTB como ajuda para cobrir gastos de campanha.
Jefferson voltou a recorrer a gestos teatrais. Defendeu Lula, mas envolveu José Dirceu no esquema de mensalão e em negociações com a Portugal Telecom. Ainda levantou suspeitas sobre a atuação do então ministro Luiz Gushiken junto a fundos de pensão.
No início da noite, Jefferson rasgou a cópia de uma reportagem de jornal mineiro em que a dona de um restaurante contaria sobre um jantar entre Jefferson e Maurício Marinho, ex-funcionário dos Correios, em que os dois demonstrariam "profunda amizade". O documento foi encaminhado à Mesa pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Marinho foi o estopim da crise, ao aparecer recebendo uma propina de R$ 3 mil, supsotamente num esquema comandando por Jefferson. Foi para se defender que o deputado federal atacou: denunciou o mensalão e provocou uma avalanche de denúncias que abalam Brasília desde maio.