| 26/07/2005 01h52min
Tomar dinheiro em bancos usando como garantia contratos com governos a fim de repassar recursos para candidatos seria um esquema adotado por Marcos Valério Fernandes de Souza há pelo menos sete anos.
A informação aparece na edição online desta terça do jornal O Globo, publicada no início da madrugada.
O homem apontado como o operador do suposto esquema de mensalão já teria concedido empréstimos em 1998 à coligação que apoiava o tucano Eduardo Azeredo, candidato à reeleição em Minas Gerais. O jornal obteve documentos que comprovariam o esquema. Hoje, Azeredo é senador e presidente nacional do PSDB.
Em 1998, a agência DNA Propaganda, de Marcos Valério, contraiu um empréstimo de R$ 11,7 milhões no Banco Rural, em Belo Horizonte. É o mesmo banco citado em denúncias envolvendo o PT.
A agência de publicidade ofereceu como garantia os créditos decorrentes de contratos assinados com as secretarias de Estado de Comunicações e de Governo de Minas Gerais para a produção e a veiculação de peças publicitárias. A previsão, mostra a reportagem de O Globo, era de que o empréstimo seria pago três dias depois do segundo turno das eleições, com juros de 1,55% ao mês.
Outra empresa de Marcos Valério, a SMP&B, repassou dinheiro para pelo menos 70 políticos ou pessoas ligadas a políticos mineiros que pertenciam à coligação de apoio a Azeredo. Os repasses ultrapassam R$ 1,6 milhão.
Na lista dos beneficiados aparecem os deputados federais Romel Anizio Jorge (PP), que teria recebido R$ 100 mil, e Custódio de Mattos (PSDB), que teria ganhado R$ 20 mil. Custódio reconheceu ter recebido o dinheiro, mas diz que as tratativas teriam ocorrido com a coordenação da campanha de Azeredo.
Também aparece na lista Paulo Abi-Ackel, filho do relator da CPI do mensalão, deputado Hibrain Abi-Ackel. Ele recebeu R$ 50 mil.
O empréstimo não foi pago e o banco executou a dívida e pediu a penhora de bens dos sócios da empresa, Marcos Valério, Cristiano Mello Paz e Ramon Hollerbach Cardoso. Em 2001, o banco enviou oficio à 1ª Vara Cível de Belo Horizonte comunicando que estava negociando o pagamento e solicitou a suspensão do processo por seis meses. Em um acordo feito em 11 de abril de 2003, a ação foi encerrada.
Com os encargos, a dívida chegou a R$ 13,9 milhões. O Banco Rural aceitou receber apenas R$ 2 milhões para liquidação do débito. Em nota oficial, informou que o acordo liquidou a dívida junto à instituição e que não poderia fornecer mais detalhes para não desrespeitar a lei do sigilo bancário. Os diretores da DNA afirmaram que o empréstimo foi pago na íntegra, incluindo juros e multas.