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 | 23/07/2005 17h51min

Bilhões de dólares circulam pelo mundo sem deixar rastros

Combate ao terror obriga sonegadores a buscar novas rotas para lavagem de recursos

Engana-se quem supõe inéditos ou resultado das denúncias contra políticos o tráfego de malas com milhões de reais e o transporte de dinheiro em roupas íntimas.

Especialistas afirmam que essas apreensões foram pequenos acidentes na rota do dinheiro invisível, uma cifra estimada em bilhões de dólares que circula sem deixar rastros pelo globo e que tem diversas procedências. Em comum, a origem ilícita que torna imperiosa a necessidade de não aparecer.

Foram os atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, que provocaram o aumento da circulação de dinheiro em espécie, afirma o juiz aposentado e ex-secretário nacional antidrogas Wálter Fanganiello Maierovitch. Para combater o terrorismo e o narcotráfico, organismos internacionais estimularam os países a criar unidades de inteligência para rastrear esses valores. Os sonegadores e os corruptos, que pela legislação nacional não são enquadrados em crime de lavagem de dinheiro, foram atingidos. Mas os avanços tecnológicos estão direcionados mais para acelerar as transações do que ao reforço da fiscalização.

– Praticamente não há sigilo bancário, embora isso não signifique que seja mais fácil apurar denúncias - afirma o procurador da República Celso Tres.

O crime organizado e os sonegadores também sofisticaram a rota da invisibilidade. Tanto é assim que um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) informa que, em 2004, pelo menos US$ 360 bilhões do narcotráfico circularam no sistema financeiro. As estimativas do total do dinheiro que circula sem origem comprovada variam de 2% a 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de US$ 49 trilhões.

– Mais cedo ou mais tarde, o dinheiro ilícito tenta voltar para o sistema formal – diz Rosa Gomes, da Treina e-learning, empresa especializada em cursos destinados a executivos financeiros para detectar operações suspeitas.

Um dos muitos aspectos surpreendentes no caso do publicitário Marcos Valério é que os saques milionários, realizados pelo menos desde 2002, não tenham despertado antes a atenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Maierovitch alerta que, apesar de ter a responsabilidade de fiscalizar um grande número de setores, entre 1998 e 2003, o Coaf tenha suspeitado de apenas 563 transações. Na sua avaliação, as estruturas de fiscalização são ineficientes:

– Sua autonomia é prejudicada, e as ações ficam apenas na esfera administrativa – critica.

LÚCIA RITZEL/ZERO HORA

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