| 11/07/2005 22h17min
O Ministério Público federal investiga denúncias de um esquema de corrupção que envolveria a alta cúpula do PT e a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). O principal personagem da denúncia é a auditora fiscal do INSS, Maria Auxiliadora de Vasconcelos, que era presidente de um sindicato de auditores e foi presa em maio de 2005, acusada de participar de um esquema de extorsão de empresários em troca de um fraudulento perdão das dívidas.
A gravação obtida pelo Jornal Nacional é de um único telefonema, do dia 11 de agosto de 2004. A gravação foi feita por agentes da Polícia Federal, com autorização da Justiça, para investigar uma fraude do INSS. Mas a denúncia atinge também os altos escalões do PT e do governo federal. A conversa é entre Maria Auxiliadora e outra auditora fiscal: Maria Teresa Alves. Maria Auxiliadora diz que esteve com o ex-ministro da previdência Amir Lando, que teria falado com ela sobre um esquema de pagamento de propina na Firjan. Segundo ela, o dinheiro seria recolhido pelo o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
Na reunião com o ministro, a fiscal teria entregue um dossiê com denúncias sobre o superintendente do INSS no Rio, André Ilha. Em outro trecho da gravação, a auditora fala que o esquema teria sido criado há mais tempo. Ela cita Waldeck Ornelas e José Cechin, ex-ministros da Previdência do governo Fernando Henrique. E dá a entender que o esquema foi mantido no governo do PT.
Em resposta à nova denúncia, Amir Lando, que ocupou o Ministério da Previdência de janeiro de 2004 a março de 2005, rebateu as acusações:
– O ministro José Dirceu jamais disse para não fiscalizar o Rio de Janeiro. Pelo contrário. Nós recebemos denúncias de que as maiores empresas, as 500 maiores do Rio de Janeiro não eram fiscalizadas há dez anos. E o que nós fizemos: criamos a secretaria da Receita sem qualquer influência política no sentido de fiscalização, adotar critérios objetivos e enfim, acabar com a sonegação – disse Amir Lando.
O ex-ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, também se defendeu:
– O meu período do Ministério é marcado pelo combate firme e rigoroso a corrupção e a fraude da Previdência Social – afirmou.
Apesar de a gravação ter sido feita há quase um ano, só há um mês o Ministério Público conseguiu acesso às informações.
– As denúncias das auditoras são do ano passado, ou seja, em tempo muito anterior ao esquema conhecido como o mensalão. Então esses fatos são muito graves, nós já estamos adotando todas as medidas cabíveis para esclarecermos os fatos – informou Fábio Aragão, procurador da República.
Em nota, a diretoria da Firjan afirma que desconhece o que seja "caixinha da Firjan" e que jamais se reuniu com o ex-ministro Amir Lando e com Delúbio Soares. Também em nota, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu diz que as declarações da auditora são infundadas e que jamais teve conhecimento de esquema para acobertar irregularidades envolvendo o INSS. O superintendente do INSS no Rio, André Ilha, também rebateu as acusações.
– Desde que assumi a superintendência do INSS no Rio, no início de 2003, nunca houve uma pressão política no sentido de fiscalizar ou deixar de fiscalizar determinada empresa, determinada entidade – contou André Ilha.
O ex-ministro José Cechin, que ficou à frente do Ministério da Previdência entre março e dezembro de 2002, disse ter certeza de que na gestão dele e na de outros ministros nunca existiu o esquema citado pelas auditoras. Os advogados do ex-tesoureiro do PT informaram que Delúbio Soares desconhece as denúncias e nunca teve qualquer relação com esses fatos.
As informações são da agência O Globo.