| 06/07/2005 23h15min
Após quase 14 horas de depoimento, Marcos Valério demonstrava cansaço e desgosto com o trabalho com a política. Depois de ouvir o deputado João Fontes (PDT-SE) falar sobre os problemas que Valério alega ter com a família por causa das denúncias e citar o choro do empresário em entrevista à Rede Globo, Marcos Valério afirmou que não iria envolver mais a família dele na questão e disse, enfaticamente, que não irá mais trabalhar com políticos.
Durante todo o dia, deputados e senadores interrogaram Marcos Valério sobre o suposto esquema do mensalão. Ele negou todas as acusações e não acrescentou nenhuma nova informação relevante. A comissão volta a reunir-se às 9h de amanhã para deliberações internas e, às 11h, irá ouvir a ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio.
Marcos Valério começou hoje o seu depoimento à CPI dos Correios com uma breve apresentação pessoal. O suspeito de operar o mensalão disse que tinha uma família e que era um brasileiro normal.
– Sou empresário, no ramo de publicidade. Tenho uma empresa de eventos. Tenho uma filha de 13 anos, um menino de quatro e uma família. Sou um brasileiro normal – resumiu.
Ele rebateu as acusações de a empresa SMP&B tenha sido favorecida na licitação que venceu na estatal. O empresário, acusado de ser o operador do mensalão, revelou que faturou R$ 28 milhões com o contrato em 2004. Marcos Valério se recusou a revelar qual o destino dos saques realizados pelas empresas SMP&B e DNA no valor de R$ 20,9 milhões entre 2003 e 2005. A pergunta foi formulada pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).
O publicitário afirmou nunca ter dito que comprava gado com esses recursos, informação que atribuiu a uma afirmação mal interpretada pela imprensa. Disse ainda que os saques representam 4% do faturamento das empresas e que muitas vezes fornecedores sacam cheques no banco em dinheiro vivo.
Valério negou ter se encontrado com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em julho de 2004. Na ocasião, segundo o parlamentar, Valério teria levado ao PTB uma mala com dinheiro doado pelo PT. Valério fez um relato de onde esteve na primeira quinzena daquele mês, época em que Jefferson garante ter recebido R$ 4 milhões do publicitário. O dinheiro, na versão do petebista, seria parte de um montante de R$ 20 milhões que o PT prometeu doar à sigla.
Sobre Fernanda Karina Somaggio, o empresário disse que a ex-secretária lhe pediu dinheiro para que não falasse à imprensa. Fernanda Karina teria dito a uma amiga, segundo Valério, estar recebendo auxílio financeiro de um jornalista para falar contra o publicitário.
Valério disse também desconhecer depósitos não identificados nas contas de suas empresas no valor de R$ 400 milhões, como afirmou o senador Geraldo Thadeu (PPS-MG). Questionado pelo senador Jeferson Peres (PDT-AM) sobre o porque teria sido alvo das denúncias de Roberto Jefferson, Valério disse achar que Jefferson é muito bem articulado, e tinha apenas suposições, mas que o petebista soube se articular muito bem para atingir seus objetivos. Ele negou diversas vezes ter participado de qualquer pagamento a parlamentares.
No depoimento, Marcos Valério admitiu ter assinado o contrato de financiamento de R$ 2,4 mihões do Banco BMG ao PT. Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), membro da CPI, comprovou-se hoje, legitimamente, com as respostas do publicitário, a relação dele com a alta cúpula do PT.
Marcos Valério de Souza disse acreditar que o escândalo do suposto mensalão pôs fim em sua carreira.
– Minha carreira como publicitário e como empresário acabou. Não preciso nem falar o porquê – declarou.
Antes do fim da sessão, quando a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ) disse haver um boato de que Marcos Valério teria uma viagem para Portugal, o empresário disse que vai deixar seu passaporte com a coordenação da comissão.
Questionado pelo deputado Ênio Bacci (PDT-RS) se estaria disposto a usar um detector de mentiras, Marcos Valério desconversou. Ele disse que só usaria o equipamento se o deputado Roberto Jefferson também usasse. Ele não deu uma resposta direta. Segundo a legislação brasileira, o depoente só pode usar detector de mentiras caso concorde com o procedimento.
Quase no fim dos depoimentos, o deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG) afirmou que Marcos Valério ofereceu-se para arrecadar recursos para a sua campanha, caso ele fosse disputar a reeleição de Poços de Caldas. Thadeu disse que, como não foi candidato, perdeu o contato com Valério.