Reagiu com nervosismo o mercado financeiro a mais um capítulo das denúncias de corrupção no governo Lula. Por conta do temor de um agravamento da crise política, uma onda de venda de ações ontem refletiu em queda de 3,07% na Bolsa de São Paulo (Bovespa) e respingou no câmbio, com uma alta de quase 1% sobre a cotação de sexta-feira.

O estopim foi uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na qual o presidente do PTB, Roberto Jefferson, acusou o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de oferecer uma mesada mensal de até R$ 30 mil a parlamentares do PP e do PL para apoiar o governo em votações no Congresso.

Durante o pregão, a queda na Bovespa atingiu 4,35%, mas recuperou parte dessas perdas, fechando aos 25.556 pontos, com volume financeiro de R$ 1,476 bilhão.

- O mercado está na expectativa para ver até que ponto a crise política vai influenciar o comportamento da economia - disse o economista Fábio Cardoso, do Banco Prosper.

O dólar, após subir 2,06%, terminou o dia em alta de 0,94%, vendido a R$ 2,45.

- O mercado aproveita qualquer chance para mudar posições e especular. Foi exatamente o que aconteceu hoje (ontem), um dia marcado por um movimento de susto diante de uma deterioração no cenário político - explicou Adolpho Nardy Filho, diretor de operações e finanças do banco Cruzeiro do Sul.

Diante do imbróglio político, não houve espaço para o mercado repercutir dados positivos da economia, como o recuo na projeção de inflação para 2005 pela terceira semana seguida e o superávit da balança comercial na primeira semana de junho - US$ 668 milhões.

Tentando acalmar a situação, o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, disse que o mercado deve olhar mais os fundamentos da economia do que as más notícias da política.

- A hora é a de perseverança, paciência e serenidade - afirmou. - São eles (os fundamentos) que determinam como a economia vai evoluir - acrescentou.