| 30/05/2005 12h13min
O papa Bento XVI fez nesta segunda, dia 30, sua primeira intervenção sobre a política italiana. Ele apoiou uma polêmica campanha de bispos do país pelo boicote a um referendo sobre fertilidade assistida. Falando aos bispos italianos no Vaticano, o Pontífice os elogiou por tentar "iluminar as escolhas dos católicos".
Alguns defensores do referendo, cujo objetivo é derrubar uma lei que restringe duramente a fertilidade assistida, acusaram o Papa de intervir na política local e pediram ao presidente da Itália que se manifeste contra isso. Este é o debate mais tenso a respeito de uma questão moral na Itália desde a legalização do divórcio e do aborto, na década de 1970.
A vitória do "sim" levaria ao fim da proibição da pesquisa com embriões, além de retirar os limites sobre o número de óvulos que podem ser fertilizados em cada tentativa de inseminação. Também cairia a proibição a doadores de esperma e óvulos e o artigo que concede direitos jurídicos plenos a óvulos fertilizados.
O Papa disse que a Igreja está se manifestando pelo boicote ao referendo para defender a vida humana, e não para apoiar um ou outro partido. Bento XVI disse estar próximo aos bispos "em palavras e orações". Para que o referendo seja válido, precisa atrair pelo menos 50% do eleitorado.
Se isso não ocorrer, as atuais restrições fertilização assistida continuarão em vigor. Grupos católicos distribuíram nas missas dominicais folhetos com os dizeres "A vida não pode ser votada – escolha não votar". A deputada Gloria Buffo, do Partido da Esquerda Democrática, o maior da oposição, qualificou de "grave e destrutiva" a posição da Igreja.
– Isso deve ser firmemente denunciado e rejeitado, pois do contrário a Itália vai se tornar o único Estado sectário da Europa. Estamos diante de uma ofensiva sem precedentes, que visa a colocar a democracia italiana sob o controle do Vaticano – afirmou Daniele Capezzone, líder do Partido Radical, principal defensor do referendo.
Capezzone pediu ao presidente Carlo Azeglio Ciampi que faça uma declaração defendendo a separação entre Igreja e Estado. Mesmo alguns críticos da complicada lei dizem que ela poderia ser aperfeiçoada pelo Parlamento, ao invés de modificada no calor de um referendo popular.
As informações são da agência Reuters.