| 08/05/2005 18h14min
A Comunidade Sul-Americana de Nações irá lançar sua atuação em nível global com uma cúpula inédita em Brasília, que reunirá os 12 países-membros da Comunidade e vinte líderes e representantes de países árabes.
Fundada em 8 de dezembro do ano passado, em Cusco, no Peru, a Comunidade Sul-Americana de Nações se reunirá na terça e na quarta-feira, dia 10 e 11, pela primeira vez com árabes muçulmanos e árabes cristãos.
A influência árabe nos países do continente pode ser rastreada em séculos anteriores à chegada dos europeus à América, quando sua cultura e religião permearam a Espanha durante os quase 800 anos de ocupação da península Ibérica.
Além disso, sucessivas ondas de imigração trouxeram centenas de milhares de árabes ao continente, que exerceram forte influência nos costumes da população. Os fluxos mais recentes ocorreram entre as duas guerras mundiais e nas décadas de 60 e 70, aprofundando a influência cultural em áreas como literatura, arquitetura e alimentação.
Estudiosos estimam que 17 milhões de árabes e descendentes vivem na América Latina atualmente. Fortemente integrados ao resto da população e à política local, a comunidade sírio-libanesa deu ao menos dois presidentes à América do Sul: Carlos Menem, na Argentina, e Abdulá Bucaram, no Equador.
Por outro lado, a chamada Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, com uma comunidade de árabes muçulmanos e cristãos de cerca de 25 mil membros, é considerada um foco de contrabando e tráfico de drogas. Os Estados Unidos têm expressado preocupação de que a forte presença muçulmana na região dê origem a um eventual centro de financiamento de atividades extremistas.
A integração social e cultural das comunidades árabes é forte na América do Sul, mas as relações do continente com a Liga Árabe nos aspectos comerciais e políticos são relativamente escassas. Recentemente, as principais aproximações entre as duas regiões se deram em torno do comércio de petróleo, com a Venezuela se tornando membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros países comprando petróleo. Antes de alcançar a quase auto-suficiência em relação ao petróleo, o Brasil manteve um forte intercâmbio comercial com o Iraque, onde inclusive se pode encontrar automóveis de fabricação brasileira.
Segundo especialistas, a cúpula pode ser uma chance de abrir canais com a comunidade árabe, como na área de investimentos, tecnologia e turismo. As duas regiões ainda não possuem vôos diretos e necessitam de conexões na Europa. Também poderiam ser exploradas articulações na OMC (Organização Mundial do Comércio), na ONU (Organização das Nações Unidas) e em outros fóruns internacionais.
Com vários de seus membros tendo dificuldades para manter a estabilidade institucional, a Comunidade Sul-Americana de Nações terá, paradoxalmente, sua primeira cúpula com países de uma região que começou apenas recentemente a caminhar em direção a governos democráticos.
As informações são da agência Reuters.