| 11/04/2005 07h30min
Como se não bastasse a queda de produção da safra gaúcha de soja devido à seca, a qualidade dos primeiros grãos colhidos nas lavouras poderá se tornar um obstáculo para a aceitação do produto no mercado internacional. Defeituosos, esverdeados, pequenos e, em alguns casos, com menor teor de óleo, colhidos antes das chuvas de março, os grãos são resultados da estiagem que predominou no Rio Grande do Sul durante todo o verão.
Até agora, 28% da área plantada foi colhida, e a aparência do produto é desanimadora. A baixa produtividade e a qualidade interferem nas exportações.
– O movimento de caminhões e vagões com soja no porto de Rio Grande é 10% do que era em 2004 neste período – diz o conselheiro da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), Darci Hartmann.
No início da safra, a entidade estimava que a exportação de soja pelos dois terminais das cooperativas no porto de Rio Grande seria de 1,7 milhão de toneladas. Há três semanas, a meta foi baixada para 700 mil toneladas. Daqui a 10 dias, a entidade vai rever o número, que deverá cair ainda mais.
– Acreditamos que o volume das exportações será muito baixo devido à quantidade e à qualidade do produto. Um importador europeu ou chinês interessado na soja do Brasil vai comprar onde? Onde há fartura e qualidade – afirma Hartmann.
Por causa da seca, a safra estimada em 8,3 milhões de toneladas pode cair para 3,2 milhões de toneladas.
– Vai ser um ano muito complicado para as cooperativas, que terão de enxugar e rediscutir custos – admite o conselheiro da Fecoagro.
Segundo Hartmann, em uma safra normal, seriam exportados de 65% a 70% dos grãos colhidos. O diretor analista da corretora Brasoja, Antônio Sartori, acredita que a soja gaúcha não sofrerá restrições devido à qualidade.
– Esse problema preocupou muito há um mês, quando não tínhamos essas últimas chuvas – justifica.
Segundo Sartori, com as precipitações, a produção se enquadrará nas normas da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais, que estabelece limites de até 8% de grão avariado e até 10% de grão verde ou esverdeado. Há um mês, o percentual estava acima dos índices permitidos, explica o analista.
– A chuva dos últimos 30 dias não mudou a produtividade, mas permitiu uma correção na cor do grão na fase final. A soja terminou amadurecendo, e o problema foi minimizado – garante.
SILVANA DE CASTRO/ZERO HORA