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O vice-presidente da República, José Alencar, nomeado ministro da Defesa nesta quinta, dia 4, deve permanecer no novo cargo mesmo após uma eventual reforma ministerial.
Depois de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que Lula garantiu que a escolha de Alencar como substituto de José Viegas não era provisória e sim "definitiva".
– O José Alencar terá todas as condições para ser um ministro da Defesa muito respeitado, bem aceito tanto pelas Forças Armadas como pela opinião pública – disse Suplicy a jornalistas no Rio de Janeiro, onde Lula se encontra para a cúpula do Grupo do Rio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou pelo nome de Alencar, que passa a acumular funções, por julgar que ele tem mais legitimidade para unificar militares, descontentes com a atuação de José Viegas. O vice-presidente se negou a fazer comentários até assumir o cargo, mas ao ser indagado se ficou animado com a nomeação, respondeu:
– Nós, jovens, somos sempre animados.
Lula aceitou o pedido de demissão de Viegas em audiência no Palácio do Planalto na manhã desta quinta. A solicitação formal de afastamento do cargo foi feita pelo ministro em 22 de outubro, no auge da crise causada por uma nota do Exército sobre fotografias supostamente de Vladimir Herzog, morto nas dependências do DOI-Codi, em 1975, durante o regime militar.
A nota, que teria sido divulgada à revelia de Viegas e do comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, foi uma resposta à publicação das fotos. Nela, o Exército afirmava que as medias tomadas pelas "forças legais" obedeciam ao "clamor popular" e serviram para "retomar o Brasil à normalidade".
Segundo fontes da Defesa, Viegas teria pedido a Lula que demitisse Albuquerque, mas o presidente teria considerado que uma nota de retratação do Exército seria suficiente. Ao receber a carta de Viegas, o presidente teria pedido que ele esperasse a crise acalmar e o segundo turno das eleições para que sua saída fosse formalizada. Por ser diplomata de carreira, José Viegas deve voltar a assumir seu posto no Itamaraty, sendo destinado para alguma embaixada no Exterior.
Embora a substituição pareça ser um caso isolado neste momento e não o início da reforma ministerial, os partidos da base governista já começaram a mostrar seu apetite por novos cargos, incluindo a própria pasta da Defesa.
– Estamos vivendo um momento em que é natural mexer em algumas peças no tabuleiro. E o PMDB tem nomes de A a Z para ocupar o cargo – disse o líder do PMDB na Câmara, deputado José Borba (PR).
No Congresso, a nomeação de Alencar foi motivo para troca de farpas. Enquanto governistas elogiavam a escolha, parlamentares da oposição anteviam problemas.
– Nomear o vice é complicado. Já pensou a confusão que seria ter de eventualmente demiti-lo? – perguntou a jornalistas o senador José Jorge (PFL-PE).
Para o líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), o argumento não faz sentido.
– Até marido de governadora pode ser secretário, por que o vice-presidente não pode ser ministro? –, rebateu Luizinho, referindo-se ao secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, marido da governadora Rosinha Mateus, ambos do PMDB. – (A escolha) é uma demonstração firme para consolidar a relação com as Forças Armadas.
A avaliação é também que a nomeação ajudaria a amansar Alencar em relação à política econômica e suas repetidas críticas públicas contra as altas taxas de juros.
Mas se a escolha de Alencar for mesmo para valer, e não apenas para um período temporário até a reforma ministerial, ela queima um cartucho na reacomodação das forças políticas na Esplanada dos Ministérios.
Com informações das agências Brasil e Reuters.