| 19/10/2004 08h30min
A nota oficial divulgada pelo Exército no final de semana, em resposta à notícia publicada pelo jornal Correio Braziliense com fotos que mostrariam o jornalista Vladimir Herzog, ainda vivo e em situação humilhante, criou uma crise que envolve o Palácio do Planalto, o Ministério da Defesa e o Comando do Exército.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou do tom da nota do Exército, considerada muito dura e que trata o golpe militar de 1964 como fruto de "clamor popular em resposta ao movimento subversivo".
Lula convocou o ministro da Defesa, José Viegas, para uma conversa. Viegas, que não havia sido consultado pelo Exército para divulgação da resposta ao jornal, também não gostou de o nome do Ministério da Defesa ter sido envolvido nas explicações e chamou o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, em seu gabinete.
Há, entre os militares, incerteza quanto à possibilidade de as fotos serem mesmo de Herzog. Ontem, a viúva do jornalista, Clarice Herzog, reconheceu-o nas imagens, que nunca tinha visto. As fotos foram entregues por um ex-cabo do Exército à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Na única imagem conhecida até hoje, o jornalista já estava morto, enforcado de joelhos.
No Exército, há estranheza com a ira do presidente e do ministro. Oficiais consultados pela Agência Estado lembram que a nota publicada no domingo repete o teor das declarações dadas anteriormente pelo Exército, quando foram publicadas outras matérias sobre mortes durante o ciclo militar.
A morte de Herzog voltou ao noticiário depois que o jornal Correio Braziliense divulgou nessa segunda, dia 18, e no domingo, dia 17, fotografias supostamente do jornalista sendo humilhado nu na prisão. Ele foi preso em 1975, acusado de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), então na ilegalidade, e morreu sob tortura nas dependências do Doi-Codi, em São Paulo.
As informações são do jornal Zero Hora.
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