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 | 04/05/2001 22h42min

Zonta e Hoffmann comem garoupa e negociam acordo de ação contra a aftosa

O local escolhido: um dos restaurantes mais badalados do cardápio de pescados da Ilha de Santa Catarina. A Toca da Garoupa, próxima à Beira-Mar Norte, onde um apartamento de cobertura ultrapassa fácil os R$ 250 mil. O pedido que domina duas mesas com quase 20 clientes envolvidos em conversas acaloradas em contraste com os 13ºC do lado de fora: a negociação de um acordo político para expurgar o impasse sobre as medidas a serem adotadas por gaúchos e catarinenses no combate ao avanço da febre aftosa pela fronteira sul do Continente. – A reunião de amanhã do Circuito Pecuário Sul pode ter dois finais: o entendimento, que começa na noite de hoje, ou o impasse. Se for o último, a reunião deste sábado começa, dura uma hora e termina – a sentença é proferida por José Hermeto Hoffmann, o polêmico secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, ao telefone celular. Ao seu lado, está Odacir Zonta, o secretário de Agricultura catarinense. Hoffmann pousou por volta de 20h no Aeroporto Hercílio Luz, Sul da Ilha. O encontro na Toca da Garoupa foi marcado já no começo da tarde. Zonta reservou duas mesas do restaurante. E o maitre fez o resto: muqueca mista (frutos do mar), muqueca de polvo, posta de garoupa com camarão a alho e áleo, posta de garoupa à bella muniere – com cremes de aspargos, champignon e alcaparra. Imaginem o resto. O secretário gaúcho já antevia o ambiente tenso durante a tarde. Na reunião dos técnicos dos dois Estados e do Ministério da Agricultura, na Ilha da Magia, não houve acerto na estratégia para imunizar o rebanho e como escoar os animais que sairão da zona tampão gaúcha, onde doses da vacina contra a febre serão injetadas. Tanto que o governador Olívio Dutra por volta de 18h se lançou ao telefone e a uma conversa decisiva com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Assim definiu o aguerrido secretário de Olívio no contra-ataque ao vírus que abala a pecuária do Sul do Brasil desde julho de 2000, data do primeiro foco da doença em campos gaúchos. O medo do governador: que tudo volte à situação anterior ao 1º de maio, quando o ministro Marcus Vinicius Pratini de Moraes selou a zona tampão. A região do Rio Grande do Sul condenada à nova imunização. A receita de FH: Pratini vem a Florianópolis neste sábado com a missão de arrancar um acordo. Que terá de ser político, sinaliza convicto e cauteloso Hoffmann no Garoupa: – Só estou na água mineral. O anfitrião catarinense ameniza a tensão do ambiente a seu modo, sugerindo que Hoffmann e outros ocupantes da larga mesa da noite – o presidente da Federação da Agricultura gaúcha (Farsul), Carlos Sperotto, e o deputado estadual Frederico Antunes – são de casa. – Eles estão gostando de vir para cá – provoca o secretário. – Com boa vontade e diálogo, tudo se resolve. Será? Segundos depois, Zonta, um nativo do Oeste do Estado e território dominado pela agroindústria de frangos e suínos, lança uma pitada com mais gosto de pimenta que manjericão: - Desde que a decisão de amanhã não afete os interesses dos nossos produtores. Difícil não pôr mais fogo nesse caldeirão. Até agora, Santa Catarina tem ficado fora da vacinação por que o receio de perder as apetitosas e crescentes exportações de carne é maior que o temor de ver os focos de aftosa avançarem nas proximidades do território fronteiriço. O secretário gaúcho considera um blefe o argumento do mercado: – O Ministério construiu a falácia que a perda da zona livre sem vacinação afetaria as vendas. Não muda nada. O desenlace do jantar na casa do parceiro de Circuito Pecuário Sul é tão ou quanto a mesma incógnita que cerca a reunião deste sábado. Hoffmann tem a seu favor a bebida que enche as taças: vinhos finos das grifes gaúchas Miolo e Valduga. Zonta aposta no cardápio dos frutos do mar e pescados, nada de carne. A noite é de trabalho, de busca de consenso. Na reunião técnica do dia, sobrou dissabores. O maior: é a liberação da circulação de animais e carnes da zona tampão. Os gaúchos não abrem mão de deixar o trânsito livre. Seria um isolamento imposto injustamente à região. Já os catarinenses querem que o produto venha com uma espécie de carimbo: carcaça vacinada. Bom apetite!

PATRÍCIA COMUNELLO
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