| 04/12/2003 21h11min
Na segunda etapa da vaigem ao Oriente Médio, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva desembarcou no Líbano nesta quinta, dia 4, onde manteve encontros com o primeiro-ministro e presidente do país, Émile Lahoud, no Palácio de Baabda. Assinou acordos nas áreas de educação, meio ambiente, turismo, combate às drogas e educação. O grande foco da escala no Líbano, contudo, foi empresarial.
Pelas ruas da capital Beirute, é possível observar o potencial da região. Ao contrário da Síria, onde Lula e sua comitiva estiveram nesta quarta, o Libano é aberto a investimentos estrangeiros. Produtos americanos e europeus são vistos por todos os cantos. Companhias internacionais como Mc'Donalds, Burger King e a farmacêutica Roche, por exemplo, operam no país, além de grandes bancos internacionais.
A restauração do centro da capital também é vista como oportunidade de negócio. Minada por sucessivas guerras, a cidade aos poucos ostenta construções arquitetônicas típicas de primeiro mundo. O representante da Câmara de Comércio Árabe-Brasil (CCAB), Mustapha Abdouni, afirmou que as chances comerciais são grandes.
– O povo brasileiro goza de grande prestígio aqui. E a simpatia pode ajudar a vender – disse.
Segundo empresários brasileiros que acompanham Lula em sua viagem ao Oriente Médio, o Líbano tem papel fundamental na região, uma vez que atua como base para distribuição de mercadorias. Empresários da construção civil estão na expectativa de que seja fechado também um acordo para o setor atuar na reconstrução do país, inclusive em Beirute.
Nas duas primeiras paradas que o presidente já teve na visita ao Oriente Médio, ele marcou posição sobre os mais delicados temas políticos da região. Ao lado dos presidentes da Síria e do Líbano, ele condenou a ocupação do Iraque pelas forças norte-americanas e defendeu uma paz "abrangente, justa e duradoura" entre árabes e judeus.
– Os presidentes enfatizaram a necessidade de dar passos acelerados com vistas à transferência do poder para o povo iraquiano, pôr fim à ocupação e conceder às Nações Unidas um papel fundamental para que o povo iraquiano possa exercer sua soberania – afirmaram Lula e o presidente sírio, Bashar al-Assad, em comunicado conjunto divulgado nesta quinta em Damasco.
Mais tarde, já em Beirute, o presidente libanês Emile Lahoud juntou-se ao grupo, dizendo ter opiniões "idênticas" às de Lula no que se refere ao Iraque. A afirmação de posições conjuntas em temas de relevância internacional obedece à lógica estabelecida pelo governo Lula de desenvolver uma política ativa no Exterior e de firmar o país como liderança no eixo das nações emergentes do hemisfério sul.
O movimento tem gerado temores de que o Brasil possa entrar em rota de colisão com a agenda dos Estados Unidos, que afirmam não poder deixar o Iraque antes de garantir condições para que o país se governe por conta própria. Além disso, os norte-americanos acusam a Síria de ser conivente com terroristas. O ministro das Relações Exteriores Celso Amorim afirmou, no entanto, não ver nenhuma razão para que as posições defendidas pelo Brasil sejam consideradas alguma espécie de afronta aos Estados Unidos.
Nesta sexta, dia 5, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de seminário para estimular o intercâmbio comercial entre os dois países. Depois do Líbano, Lula vai aos Emirados Árabes, Egito e Líbia. Além de firmar a liderança política do Brasil entre países do hemisfério sul, a ofensiva de Lula em direção aos países árabes também tenta aprofundar o eixo comercial entre os mercados sul-americano e árabe. O plano de Lula é prosseguir contados com países do Oriente Médio no ano que vem em diversas reuniões no Brasil.
Entre elas, a ida da ministro da Economia e Comércio da Síria, Ghassan Refai, marcada para maio, e uma reunião entre lideranças árabes e da América do Sul no Brasil, provavelmente em agosto. Convidados pessoalmente por Lula, os presidentes da Síria e do Líbano prometeram visitar o Brasil em breve.
Com informações da Agência Brasil e Reuters.