| 19/06/2003 21h56min
Os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fazem nesta sexta, dia 20, uma histórica reunião na Casa Branca para determinar se podem trabalhar juntos para resolver os problemas da América Latina. A reunião deve durar quase três horas e incluirá vários ministros dos dois países (do Brasil, são 10).
O encontro, organizado por iniciativa de Bush, pode servir para que as diferenças ideológicas entre ele e Lula sejam deixadas de lado, em nome de uma visão comum para as Américas.
– Talvez não sejam os sócios mais prováveis, mas acho que eles compartilham uma visão para os problemas sociais do nosso hemisfério – disse nesta quinta, dia 19, a embaixadora norte-americana em Brasília, Donna Hrinak.
A agenda do encontro é aberta, mas um porta-voz da Casa Branca disse que "a promoção da liberdade na região e o comércio serão certamente grandes temas''. Entretanto, não deve ser discutida a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), um ambicioso projeto de mercado comum a respeito do qual Brasil e Estados Unidos têm profundas discordâncias.
– Não vamos discutir a Alca, o aço e o suco de laranja – disse o embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, referindo-se a dois produtos que também provocam disputas comerciais.
Também nesta sexta-feira, Lula se reúne com diretores do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Bird. Em seguida, o ex-sindicalista Lula irá à sede da principal central sindical norte-americana, a AFL-CIO, para um encontro com seu presidente, John Sweeney.
Para Myles Frechette, presidente do Conselho das Américas, organização que promove o intercâmbio entre as Américas do Norte e do Sul, a visita de Lula tem a mesma importância da visita de Getúlio Vargas a Franklin Roosevelt na Casa Branca, quando o então presidente brasileiro anunciou o apoio aos Aliados na Segunda Guerra Mundial.
– O objetivo é que cada um se sinta confortável com o outro – disse Frechette.
Na opinião dele, o que Bush quer é se certificar de que Lula é "um bom sujeito'' – uma estratégia que ele já teria usado na sua aproximação com os presidentes do México, Vicente Fox, e da Rússia, Vladimir Putin. Bush precisa do apoio de Lula para implementar sua agenda latino-americana, baseada na visão de um hemisfério plenamente democrático e unido pelo livre-comércio.
Nesse sentido, a decisão de Lula de combinar uma agenda social com cautela fiscal e econômica constitui para os EUA um valioso exemplo na América Latina, onde líderes como o venezuelano Hugo Chávez mantêm profundas diferenças com Washington.