| 17/06/2003 20h38min
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi contundente ao responder aos críticos da política econômica de seu governo. O cenário escolhido foi a 11º edição da Feira Nacional de Doces, em Pelotas (RS), que recebeu pela primeira vez a visita de um presidente da República. Durante a curta passagem pelo Estado, Lula afirmou que o país estava quebrado em dezembro e, agora, após cinco meses de sua administração, goza de "respeitabilidade".
Mesmo sem citar nomes, suas declarações tinham como endereço o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que na véspera censurou o governo Lula em entrevista ao site do PSDB, criticando desde o nível da taxa de juros até o reajuste de 1% do salário dos servidores públicos.
– Os que agora com muita facilidade criticam a política econômica, não tiveram coragem de criticar em dezembro porque, em dezembro, os mesmos que estão criticando agora tinham dúvidas se nós seríamos capazes de levar o Brasil a sair do buraco que nós o pegamos – disse Lula em discurso de cerca de 20 minutos.
Mais uma vez quebrando o protocolo e se aproximando do público que o assistia na feira, o presidente argumentou que, em dezembro do ano passado, o risco-país batia nos 2.400 pontos e hoje caiu a menos de 600. Lembrou ainda que o crédito externo à exportação estava suspenso.
A situação crítica, lembrou o próprio Lula, guardava relação com as dúvidas da comunidade financeira internacional sobre um possível governo do PT.
– Havia quem dissesse: o Lula não pode governar porque, imagina, ele não fala inglês, como ele vai governar?. Pois bem, bastaram cinco meses para a gente provar que a respeitabilidade de um país não se consegue falando inglês ou espanhol, mas com caráter, com ética, e com projetos concretos – afirmou Lula, voltando a dizer que um torneiro mecânico pode governar o Brasil com mais sabedoria do que outros políticos.
Quanto à reforma da Previdência, Lula disse que não quer prejudicar "o intelectual", mas aproveitar seu potencial para trabalhar até os 60 anos. Qquestionou o fato de, hoje, um cortador de cana trabalhar até os 60 anos para se aposentar, enquanto professores ou procuradores estaduais chegam a se aposentar "com 53 ou 47 anos".
– Nós somos iguais, e sempre há espaço e fóruns para discutir as coisas, mas eu não posso aceitar que alguém se aposente com 17 mil reais por mês – encerrou o presidente.
Em resposta às vaias de manifestantes, que empunhavam cartazes contra a reforma da Previdência, Lula relembrou sua história política.
– Sabe quando tomei a maior vaia da minha vida? – indagou. – Quando eu fui fundar a CUT. Depois, quando fui fundar o PT. Estou vacinado porque sei que vou enfrentar muitas coisas neste país. Com a maior tranqüilidade. Queremos este país crescendo.
E em mais um contra-ataque, falou também que não pode se dar ao luxo de "ir morar na França" se seu projeto de governo não der certo.
Lula foi ainda mais longe e disse que "as pessoas estão convencidas" de que apenas o seu governo será capaz de "compatibilizar uma política de ajuste fiscal, que é necessário fazer, com uma política social intensa". Mas novamente pediu paciência para atingir este objetivo de campanha.
Em sua segunda visita ao Estado desde que foi empossado, o presidente não esqueceu de seu sucesso eleitoral no Rio Grande do Sul e agradeceu aos gaúchos, dizendo que se dependesse deles há muito tempo já teria sido eleito para a Presidência. Lembrou ainda que essa foi a sétima feira de agronegócios que visita nos cinco meses de governo.
Prometeu ainda que, depois das reformas previdenciária e tributária, fará a reforma da estrutura sindical, para acabar com que denominou peleguismo. E a reforma política para acabar com as mudanças repetidas de partido por um mesmo político.
Com um discurso afinado ao do presidente, o governador gaúcho Germano Rigotto disse que o Rio Grande do Sul está com o governo Lula e que não faltará ao Brasil neste momento.
– As vozes que se levantam contra alguns pontos das reformas não estão entendendo que a contrariedade com relação a um ponto ou outro não pode inviabilizar o processo – disse Rigotto. – Divergências pontuais não podem causar dano ao todo.
Participaram do evento, os ministros da Cultura, Gilberto Gil, das Cidades, Olívio Dutra, da Agricultura, Roberto Rodrigues. A secretária Especial de Políticas para Mulheres, Emília Fernandes, e o secretário de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, também estavam presentes na Fenadoce. A primeira-dama, Marisa da Silva, acompanhou o presidente em sua visita à cidade gaúcha.
De Pelotas, o presidente seguiria para Assunção, no Paraguai, onde participa do 24o encontro de cúpula dos países do Mercosul.