| 18/01/2011 20h48min
A chuva que arrasou e matou centenas de pessoas na região serrana do Rio também foi um duro golpe na estrutura agrícola dos municípios, colocando em risco o sustento de milhares de pequenos produtores. Depois de ter parte da safra arrasada pela enxurrada, eles não têm como escoar o que conseguiram salvar, pois as estradas continuam totalmente interditadas ou em péssimas condições, impossibilitando o tráfego de caminhões.
No município de Sumidouro, onde 85% da população mora no campo, a situação é crítica. O agricultor Isael da Rosa Pinheiro, que planta tomate, pimentão, alface e berinjela, já dá como certa a perda de 70% da lavoura.
— Ficamos ilhados sete dias, sem estradas para escoar a produção. O que não se perdeu na chuvarada, vai acabar apodrecendo na terra — lamentou Isael, dono de uma propriedade de 5 hectares, onde trabalham 22 pessoas.
Assustado, ele disse que nunca passou por uma situação como esta, pois, pela primeira vez não terá dinheiro para pagar o empréstimo de R$ 12,5 mil contraído no Banco do Brasil.
— Além disso, eu devo outros R$ 12 mil ao comércio em adubos e produtos que usei na lavoura — contou o agricultor, que teve uma sobrinha morta na tragédia e agora tem medo de ir à falência e perder a terra.
No município de Nova Friburgo, na localidade de Três Cachoeiras, a agricultora Sirlene Stoffel Miranda não sabe o que fazer com a perda de sua lavoura de 1 hectare, onde cultiva tomate e abobrinha.
— Não tem condições de colher nada. Se eu não vender, não ganho dinheiro para comprar comida. Vai ficar muito difícil — disse Sirlene, que há dias só tem arroz, macarrão e feijão para comer: "Ovo, leite e carne não como já faz tempo".
Na localidade, a avalanche de água e lama da semana passada matou seis pessoas de uma mesma família e um casal de idosos. Nesta terça-feira, os bombeiros localizaram os corpos de mais duas pessoas, o avô e um neto, mas ainda há uma mulher desaparecida.
Os vizinhos viram as pessoas serem tragadas pelo rio, gritando por socorro, mas nada puderam fazer.
— O que mais dói é ouvir as pessoas que você conhece pedindo socorro e não poder fazer nada — desabafou o operador de serra Edson Ferraz da Silva.
Sem poder trabalhar a terra, que está muito encharcada e teve a camada de solo mais fértil levada pela chuva forte, muitos agricultores estão dependendo de doações para sobreviver.
— Ainda bem que eu ganhei essas coisinhas hoje, senão, ia faltar comida lá em casa — mostrava o agricultor Fábio Rocha dos Santos, que carregava dois pacotes de fraldas e equilibrava no ombro uma caixa com 12 litros de leite, enquanto seguia a pé, abrindo caminho na lama.
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tragédia que assolou o Estado esta semana: