Em 2006, o Inter só perdeu em Quito até ser campeão da Libertadores. Foi contra a LDU, derrota por 2 a 1. Longe de lá, só empates ou vitórias até Fernandão erguer a taça. O que poderia criar uma tensão extra para o jogo de quinta-feira, contra o Deportivo, na mesma Quito e seus 2,8 mil metros acima do nível do mar.
Então, o Inter fez o seguinte: declarou guerra a uma possível paranoia na hora de lidar com a altitude.
O raciocínio é simples. Até 2,8 mil metros, a perda de rendimento físico de um jogador é de só 10% da sua capacidade. Pode, no máximo, alcançar 12%. Mas é raro. Para o alto nível de preparação existente nos grandes clubes, isso é quase nada. Para Guinazu, por exemplo: faz diferença correr 10% menos?
Então, a ordem no Beira-Rio foi tratar a altitude como algo corriqueiro, quase como ir a Gramado ver o
Natal Luz e voltar. É claro que cuidados foram tomados pelo médico fisiologista Luiz Crescente, um craque no assunto: ele providenciou exames de sangue, mandou tomar muito líquido para evitar algum risco de desidratação (a boca seca é um fato acima do nível do mar), orientou a nutricionista a retirar proteínas e acrescentar carboidratos para facilitar a digestão e não dar moleza para dores de cabeça, enfim, cuidou de tudo.
Mas o Inter montou sua estratégia aos pouquinhos, sem alarde, sem sustos. Sempre com o objetivo de não transformar a altitude em um bicho papão medonho e invencível.
O maior inimigo é o Deportivo desesperado atrás de uma vitória que o tire da crise (é o penúltimo colocado no campeonato equatoriano), e não o ar nem tão rarefeito assim de Quito. O peso da bola vai mudar, mas ainda será a mesma bola de sempre nos pés dos jogadores.
Além do mais, quase todos no Beira-Rio já jogaram em
Quito. Os castelhanos Sorondo, Bruno Silva, Guiñazu,
Abbondanzieri e D'Alessandro foram várias vezes. Os experientes Índio, Bolívar, Alecsandro. Kleber com a Seleção Brasileira. Até Giuliano lá esteve com a seleção sub-18, me contou Crescente.
— Então, não tem mistério. Vai ser tranquilo. Tomamos os cuidados que deviam ser tomados, mas sempre com a certeza que dificilmente vai acontecer alguma coisa. Sem aquele clima tenso, de ficar cobrando a toda a hora. É um grupo experiente: eles estão acostumados a lidar com situações assim — ensina Crescente.
O Inter dorme esta noite em Guayaquil, ao nível do mar, e embarca amanhã à tarde para Quito. Desce do avião e vai direto treinar à noite, na hora do jogo de quinta-feira. Sabe aquele estresse de chegar horas antes da partida para reduzir ainda mais os efeitos do ar rarefeito? Não haverá nada disso. O Inter dormirá na altitude na véspera de enfrentar o Deportivo.
Não poderá usá-la como desculpa em caso de resultado
negativo, é verdade, mas o Inter está corretíssimo.
Nada de paranoias ou lamúrias.
Não dá para ser bicampeão da Libertadores morrendo de medo da altitude.
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