| 25/02/2010 22h22min
Era 15 de dezembro de 2006. Kelly Slater, dois meses depois de comemorar o octacampeonado mundial, liderava, com sobras - 9,00 e 8,53 -, uma final épica em Pipeline, último desafio da temporada. Quando o cronômetro se aproximou dos dez minutos, porém, um até então inofensivo Andy Irons arrancou um 9,87 e deu o golpe final com uma nota 10. Água no chope, doce vingança. Era o último duelo entre os dois maiores surfistas em atividade.
A partir desta sexta-feira, na Gold Coast australiana, vai ser possível voltar a vê-los em ação e, quem sabe, na mesma bateria. Após um ano sábatico, em que tentou recuperar a paixão pelo surfe, Irons está de volta para buscar seu quarto título do Circuito Mundial. Slater, que amarga seis derrotas em oito duelos contra o maior rival, vai atrás do décimo caneco. As informações são do site GloboEsporte.com.
Slater vai estrear contra o australiano Ben Dunn e o brasileiro Marco Polo. Irons pega os aussies Tom Whitaker e Jay
Thompson.
– Sempre
digo "Não posso ficar chateado de perder se o cara para quem eu perdi ganhou o campeonato". Se eu estiver 100%, posso derrubá-lo – disse Irons, em 2008, quando decidiu parar de competir.
O paraibano Fábio Gouveia, ex-integrante da elite mundial, acompanhou boa parte dos oito confrontos entre Irons e Slater. A maioria deles foi em Pipeline, onde o havaiano, local da ilha de Kauai – ao norte de Oahu -, sente-se em casa. Mas as esquerdas mais famosas do mundo também acolhem o filho da Flórida – ele venceu seis vezes a última etapa da temporada (1992, 1994 a 1996, 1999 e 2008).
– Aquela final de Pipeline-2006 foi inesquecível. O Kelly estava com a bateria ganha, mas o Andy virou – relembra o paraibano.
O primeiro confronto entre Andy e Kelly foi em 2000, lá mesmo em Pipeline, em uma bateria pela terceira fase. O americano defendia o título da etapa, mas caiu diante do havaiano, na época um mero coadjuvante. Dali em diante, Kelly deixou os campeonatos de lado e passou a se dedicar mais à musica.
Quando Kelly Slater enfim recuperou o instinto de competições, dois anos depois, Andy Irons, claro, voltou a entrar em seu caminho. E o havaiano levou a melhor de novo, desta vez nas semifinais da etapa francesa.
Na mesma temporada, Slater enfim conseguiu dar o troco, justamente em Pipeline. Venceu na primeira fase, mas, como Irons passou em segundo, eles acabaram voltando a se enfrentar. Agora a derrota seria ainda mais dura, na decisão. Irons, então campeão do mundo, selou o titulo com uma vitória sobre o maior rival.
Coincidência ou não, o duelo mais famoso entre os surfistas foi mais uma vez em Pipeline. As ondas havaianas decidiriam, na última bateria, o título da temporada. Há quem diga que Andy vomitou e teve câimbras na véspera. Kelly conta que, antes de entrar na água, fez um pedido de “paz” ao adversário, dizendo que o resultado não importava. Não foi bem como ele queria. Slater saiu de cabeça baixa; Irons,
carregado pelos amigos. Era o bicampeonato
do havaiano.
Anos depois, Slater admitiu que o resultado importava, sim. E que demorou para engolir. Em 2004, viu, como coadjuvante, o rival conquistar, no Brasil, mais um título mundial.
Em 2005, foi a vez de Slater voltar ao jogo. Uma das etapas, a da África do Sul, ficou marcada por ter sido conquistada com uma onda nos últimos minutos. O havaiano Irons, liderando, já tinha saído da água, poucos minutos antes de o cronômetro zerar. Assistiu, da areia, à virada.
Frustrado, caminhou da beira da praia ao palanque. Parecia não escutar os gritos do público, que vibrava com o final surpreendente. Exibia o mais gelado dos olhares e só conseguiu disfarçá-lo no alto do pódio, quando deu champanhe a Slater.
Três meses depois, Irons devolveu a derrota ao vencer a final da etapa de Chiba, no Japão, e dificultar o caminho de Slater rumo ao hepta, título que só viria no Brasil.
Os surfistas passaram,
então, um ano sem se enfrentar. Um ano dominado por Kelly, que
venceu cinco etapas e ergueu o caneco por antecipação, nas ondas de Mundaka, o antepenúltimo desafio da temporada. Com a taça na mão, o americano desistiu da etapa brasileira e partiu para o Havaí.
Tudo parecia perfeito. Slater chegou à final, onde enfrentaria não só Irons, mas também os amigos americanos Cory Lopez e Rob Machado. Kelly saiu na frente, mas, a dez minutos do fim, Andy começou a reação e virou com 9,87 e uma nota 10 com um belo tubo em Backdoor. O último capítulo da história entre eles terminava com o americano em combinação - precisando de duas ondas para virar a bateria.
– Ver uma bateria entre eles ou mesmo ver cada um deles surfando é um show à parte – diz Fabinho.
Kelly Slater terá mais uma chance de diminuir a vantagem nos confrontos contra Andy Irons
Foto:
Maykon Oliveira