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 | 21/02/2010 05h10min

Por que os técnicos cismam com os melhores?






Por que os técnicos cismam com os melhores?

Jorge Fossati deixou Giuliano na reserva contra o Juventude. Depois disse que era só teste. Mas se o Inter perdesse estaria eliminado do primeiro turno do Gauchão. A verdade é que o uruguaio cogita montar o time sem Giuliano. Imagina situações nas quais abriria mão de seu melhor jogador, o que é um erro.

Ficou provado na pré-temporada em Bento Gonçalves, nos dias que antecederam ao Gre-Nal e ainda em jogos nos quais ele foi substituído no segundo tempo.

Fossati pode até não ir mais a fundo em seus devaneios, talvez surpreso com a reação da torcida e o espanto geral, dos funcionários no Beira-Rio ao flanelinha do restaurante, mas é notório que pensa nisso. Do contrário, não deixaria Giuliano no banco. Por uma razão simples: não faz sentido deixar o melhor na reserva, nem contra o Juventude. O que faz pensar acerca de uma questão realmente intrigante.

Por que eles, os técnicos, são assim? É curioso. Não é só Fossati. Há outros casos de treinadores que implicam de alguma maneira com o melhor do time. Ou com aquele jogador cuja titularidade é óbvia como o fracasso do Brasil na Olimpíada de Inverno.

Abel Braga achou que Alexandre Pato não era importante contra o Vélez na Libertadores de 2007. Mais importante, para Abel, eram Michel e Gabiru. Ele podia ter entrado na história do Inter apenas como campeão do mundo, mas acrescentou também o capítulo "O Técnico Que Colocou Pato Na Reserva De Michel".

Lembro de uma vez que Leão chegou ao Atlético-MG e brigou com Taffarel. Celso Roth deixava Ronaldinho na reserva, agora vejam só. Só aceitou sua titularidade quando era caso de interdição sair jogando sem ele. Nas oitavas de final da Copa do Brasil de 1999, Roth escalou o Grêmio sem Ronaldinho no Rio. No Olímpico, tomou 2 a 1. No Rio ia pelo mesmo caminho, até finalmente colocar Ronaldinho no lugar de Djair. Incendiado pelo hoje camisa 80 do Milan, o jogo terminou 2 a 2. Eu estava lá. Mais cinco minutos e o Grêmio ganharia, tal o furdunço aprontado por Ronaldinho. E se ele estivesse em campo desde o início?

No Grêmio, Silas começa por Ferdinando, um volante mediano que produz atuações nunca além de medianas, como era mesmo de esperar. Até preservado Ferdinando já foi, como se faz com as peças mais importantes da engrenagem. Silas diz que Fernando, 18 anos em março, ainda não está pronto. Foi titular de todas as seleções da CBF, é bicampeão brasileiro de juniores, dá resposta quando chamado, mas não está pronto.

Até os gênios, como Ênio Andrade, têm histórias assim no currículo, o que permite supor tratar-se de algo ligado ao DNA do técnicos: quando eles passam a comandar a brincadeira da casamata, automaticamente recebem a herança genética da categoria, sem direito à defesa. Ênio Andrade cismava com Renato Portaluppi. Sua titularidade era uma imposição do futebol, com ou sem Tarciso. Renato foi promovido à equipe profissional no início de 1982, mas passou boa parte do ano no banco. Só virou o camisa 7 lendário mesmo em 1983, e com ele o Grêmio ganhou a América e o Mundo.

Deve ser isso. Deve estar no DNA dos técnicos não aceitar o brilho e a singeleza do que é simples, optando por argumentações táticas complexas nem sempre inteligentes para justiticar o injustificável: o melhor do time tem que jogar.

Sempre.

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