| 12/09/2009 05h10min
Montagem sobre fotos de João Miguel Júnior e Frederico Rozário
Está na ponta de baixo da tabela o evento mais emocionante deste fim de semana. Do ponto de vista racional, Inter e Cruzeiro fazem o jogo da rodada, é claro. Daí pode sair o novo líder, se o time do técnico Tite seguir vencendo e o Palmeiras tropeçar diante do Vitória, em Salvador. Mas o que dizer do clássico do desespero entre Fluminense e Botafogo, no Engenhão?
Imagine como estão tricolores e botafoguenses 24 horas antes de um jogo tenebroso destes, se os dois
chafurdam no miserável lodo da zona do rebaixamento? Comenta-se, no Rio, que até os vascaínos andam fazendo piadinhas. Vejam a que
ponto chegaram os pobres tricolores e amantes da estrela solitária.
Por isso, fui atrás de dois torcedores que representam não apenas Botafogo e Fluminense, mas também o Rio de Janeiro. E descobri que, apesar do sofrimento, o torcedor carioca consegue rir de si mesmo como nenhum outro. Verdade que escolhi a dedo: Hélio de la Peña (D), do Casseta e Planeta, é o botafoguense. Evandro Mesquita, cantor/ator e eterno vocalista da Blitz é o tricolor.
Antes, um breve relato do que os dois têm passado. No Rio, o jogo está sendo abordado de duas maneiras. A primeira: clássico "vou-vou", em vez de "vovô". No caso, "vou" para o rebaixamento. Esta é uma piada de flamenguista. A outra surgiu esta semana e nem se sabe a paternidade, de tão óbvia.
Tanto Fluminense quanto Botafogo buscaram refúgio e inspiração nas proximidades da brisa do mar, dispostos a recuperar forças. O Botafogo, em Saquarema. O
Fluminense, em Mangaratiba. Não demorou para a flauta anunciar que
ambos morrerão na praia.
Comecemos por Hélio de La Peña.
Trata-se de um torcedor atuante, com o mérito de ter convencido dois filhos a seguirem com ele: João, sete anos, e Antônia, cinco. O maior, de 17, resolveu virar tricolor no ano passado, quando o Fluminense perdeu a final da Libertadores para a LDU. De la Peña bolou três medidas práticas para livrar o Botafogo. Aqui estão elas.
1) Empate passa a valer dois pontos em vez de um. O Botafogo é o campeão dos empates. São onze.
— Se minha sugestão for acatada, vamos para o G-4!
2) Recurso no STJD para obrigar os jogos do Botafogo terminarem aos 40 do segundo tempo.
— Se esta medida e a dos empates forem atendidas, vamos para as cabeças. O que levamos de gol no finzinho é uma beleza.
3) Impedir que a superstição da torcida invada o
vestiário.
— Nós, botafoguenses, somos sofridos e supersticiosos, mas os jogadores não podem entrar nessa, né? Eles não
podem entrar nesta de maldição, do tem coisas que só acontecem com o Botafogo. A gente só empata, mas o Fluminense só perde. Acho que a gente escapa. Nosso time não é de outro mundo, mas também não é tão ruim assim, né?
Faz sentido a análise do casseta. O Botafogo é 18º colocado, com 23 pontos. Está a dois pontos do Naútico, o primeiro a escapar.
Perto da dor de Evandro Mesquita, um tricolor que até o ano passado dava entrevistas imaginando como seria a final de Yokohama contra o Manchester United, o sofrimento botafoguense chega a parecer provocação.
O Fluminense é o lanterna, com 17 pontos e o incrível saldo negativo de 14 gols. Está a oito pontos dos que escapam. Se perder o clássico dos desesperados, portanto, pode ir preparando o time para a Série B de novo. Compreende-se a dor do criador da Blitz.
— Cara, só pode ser urucubaca, olho-gordo, sapo enterrado. Sapo não:
sapo barbudo enterrado. Só assim para explicar o que acontece com o
Fluminense, na boa. Não sei o que acontece.
Evandro está mais deprimido, o que é compreensível. Não entende como um time que revela tantos bons jogadores em Xerém continue uma desordem administrativa, com o futebol entregue ao patrocinador. É verdade. O Fluminense coleciona títulos de base, mas não os concretiza no profissionalismo. Tudo bem, mas como pode um time cair tanto assim em menos de um ano? Estava disputando a final da Libertadores e, agora, se vê quase rebaixado?
— Tem um lado psicológico aí. A gente sentiu demais aquela derrota na Libertadores. O Renato Portaluppi falou demais ali. Saiu dizendo que o Brasileirão era meio brincadeira antes de ganhar, sei lá. Aqui nas Laranjeiras todo mundo fala antes. Tem que falar depois de ganhar, pô!
Tudo bem, mas será que o drama tricolor é tão deprimente que conseguiu atingir até o eterno bom-humor de Evandro Mesquita, um estandarte do jeito carioca de levar
a vida? Quase. Há esperança.
— Tenho
uma solução. Chama o Rivellino! Chama o Carlos Alberto Pintinho, o capitão Torres! Chama esse pessoal todo que ainda dá!
É ou não é o evento da rodada deste domingo o clássico dos desesperados entre Botafogo e Fluminense, duas lendas do futebol brasileiro à beira do afogamento?