| 28/08/2009 15h10min
Jefferson Bernardes, Divulgação
Ele é o criador do condomínio de credores do Grêmio, cujos pagamentos a direção atual decidiu atrasar para segurar as estrelas do time. Em 2005, diante de um dilema aparentemente insolúvel — clube atolado em dívidas e credibilidade quase zero na praça —, o então presidente Paulo Odone (foto) teve a ideia de destinar parte da venda de cada jogador para uma espécie de fundo, de forma a saldar as dívidas em doses homeopáticas.
Em contrapartida, os credores se
comprometiam a pedir o arquivamento das ações judiciais. Assim, o Grêmio ganhou fôlego para administrar suas finanças sem o risco de penhoras ou
mesmo bloqueio online de contas bancárias. Diante da notícia do atraso no pagamento do condomínio, procurei Odone. É justo que o criador seja ouvido sobre o uso que se faz de uma obra sua.
— O que me preocupa é a tentação de dispor do dinheiro do condomínio. Esta tentação não pode dificultar a saída do Grêmio desta situação difícil.
A situação referida por Odone, hoje, é a dívida de R$ 23 milhões acrescida dos juros de R$ 300 mil por mês. Ele mesmo, quando presidente, valeu-se do atraso para comprar Victor e Réver — risco que restou plenamente justificado, hoje sabemos todos. Odone telefonou para os credores, dialogou com eles, discutiu a situação e, enfim, usou o dinheiro.
Mas foi uma vez e nunca mais. Em quatro anos. A base do condomínio é a credibilidade. Se o devedor falhar nesta relação de confiança, é o fim. Basta um credor desconfiar que o Grêmio irá transigir a todo instante neste compromisso, retirando o dinheiro
para tapar os buracos do dia-a-dia, e a execução
judicial pode voltar.
Apesar da tentação, Odone abriu mão de boa parte do dinheiro obtido nas vendas de Anderson, Lucas e Carlos Eduardo para emprestar credibilidade ao condomínio. Era o combinado. Aos poucos, quem tinha dívida com o Grêmio foi percebendo que o negócio era para valer mesmo.
As ações foram sumindo — salvo exceções, caso de Zinho, por exemplo. A construção da Arena passa também por este processo, vale lembrar. Para a empreiteira OAS erguer o novo estádio, terá de ter a posse da área do Olímpico. É o trato.
Enquanto o Olímpico estiver onerado com uma ou outra ação, nada feito. Pelo que percebi da conversa com o ex-presidente, ele ainda confia na palavra de seus sucessores de que o cofre do condomínio será aberto só dessa vez. Não entende a demora na prorrogação do contrato do Banrisul de R$ 3,5 para R$ 7 milhões se, conforme o ex-presidente, tinha ficado tudo alinhavado ao final do seu mandato. Bem, o fato é que
Odone, criador do condomínio de credores
e hoje secretário estadual extraordinário da Copa de 2014, deixa um alerta:
— Se for só dessa vez, tudo bem. Mas não dá para abusar. Se virar regra e não honrar o condomínio uma, duas, três vezes, aí implode Grêmio, Arena, tudo.
"Implodir". Eis o verbo usado pelo criador do mecanismo que tirou o Grêmio da UTI financeira. É uma advertência que merece meditação nas imediações da Azenha.
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