| 26/08/2009 04h27min
A persistir a regra da CBF de só permitir 22 crianças entrando em campo com o time nos jogos do Brasileirão, meninos como Toshiro e suas irmãs ficarão tristes. Dito assim, parece pouco. Mas vá ouvir o próprio Toshiro, 12 anos, as irmãs menores Ayla, Kelly e Kuki em volta a concordar com o primogênito, expressando sua decepção quando o pai, Yukio, comunicou aos filhos a intenção da entidade de alterar o projeto Criança Colorada.
Em vídeo, crianças fazem campanha para poder entrar em campo com os jogadores:
Toshiro é uma celebridade no Beira-Rio. O seu nome é Jonathan, mas o apelido cresceu de tal forma que superou o da certidão de nascimento.
– Oi. Aqui é o Toshiro – diz o
simpático Jonathan ao se apresentar.
Toshiro (ou Jonathan) foi o símbolo das peças
publicitárias realizadas em 2006, ano em que o Inter foi campeão do mundo no Japão. Se a CBF for adiante na limitação, Toshiro e suas irmãs correm o risco de sair de campo. Toshiro já entrou várias vezes no gramado – a primeira vez, de mãos dadas com Fernandão, ele não esquece. Ultimamente, ele tem esperado no círculo central. Só que a bronca da CBF com o Inter é justamente as crianças que ficam no círculo central. Com o time, ingressam só 22. Mas lá no meio-campo são dezenas.
Inter diz que projeto nunca atrasou começo das partidas
No próximo domingo – os agendamentos do projeto Criança Colorada para o ano estão lotados desde março – virão três ônibus. Dois com pequenos torcedores entre oito e 13 anos do município de São Marcos e um de Tenente Portela, todos recrutados nas escolas. Outros 20 filhos de sócios compõem o time.
– Ao todo, serão 130 crianças. Por enquanto, a vinda do pessoal ao estádio, ao menos, está mantida – diz
Andréa Rotuno, responsável pela difícil tarefa de
acomodar tanto colorado mirim nas 19 rodadas do Brasileirão.
A denúncia partiu de Virgílio Elísio, diretor de competições da CBF, ao ver a criançada pela TV.
– Sou torcedor do Inter e do futebol gaúcho pelo padrão moral de conduta e o trabalho exemplar de gestão que fazem. Mas a lei é para ser cumprida. Se o Atlético-MG e o Vitória cumprem o regulamento quanto a esta prática, por que o Inter não pode cumprir? Eu já tinha deixado recado na final da Copa do Brasil – afirma Elísio.
– Aconteceu uma, duas, três vezes. Minha função é fazer cumprir o regulamento que eu mesmo assino. O cenário das centenas de crianças é lindo, eu sei, mas não é a razão de ser do jogo. E se o adversário resolver trazer outras cem, como fica?
O Inter ainda não definiu como procederá contra o Goiás, um jogo no qual Toshiro poderia reencontrar Fernandão, com quem pisou na grama do Beira-Rio pela primeira vez de mãos dadas. Mas a tendência é não afrontar a CBF.
Portanto, saem as crianças do círculo central,
ficando só as 22 regulamentares.
– A ideia é mostrar a concepção do projeto, que existe há anos, nunca atrasa o começo dos jogos e tem a paz e a inclusão social na sua gênese. Vamos tentar sensibilizar a CBF a partir deste convencimento – diz o vice jurídico do Inter, Dagoberto Paganella.
No Grêmio, o diretor administrativo Luís Moreira admite: não é nada fácil limitar a 22 o número de crianças dentro do campo.
– Imagine a quantidade de meninos e meninos que querem entrar com os jogadores? Tem sido uma dificuldade para nós cumprir esta regra – afirma Moreira.
Entrevista: Paulo Schmitt, procurador-geral do STJD
O procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, recebeu na semana passada a denúncia da CBF contra o Inter. Ontem, por telefone, ele conversou com ZH sobre o assunto.
ZH – O Inter estaria infringindo o regulamento?
Schmitt
– Se estiver violando, será enquadrado no artigo 232.
ZH – O que prevê o artigo 232?
Schmitt – Pune por “deixar de cumprir obrigação assumida em documento”. Prevê multa de R$ 1 mil a R$ 10 mil (na verdade, é R$ 1 mil), cumprimento de obrigações.
ZH – O regulamento permite que 22 crianças entrem em campo. O Inter poderia receber licença para seguir com seu projeto?
Schmitt – O quantitativo deve ter sido fixado para agilizar o início das competições. Os clubes não podem alegar desconhecimento do regulamento. Mas não sei ainda se será oferecida denúncia.
ZH – O senhor acha que não seria antipático impedir a entrada das crianças? Poderia haver uma mudança no regulamento?
Schmitt – Só se o regulamento for
modificado. Tem que cumprir o que está escrito.
Toshiro (C) e seus irmãos estão ameaçados de não entrar mais no Beira-Rio com os jogadores
Foto:
Diego Vara