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 | 19/07/2009 05h10min

É o medo que move o Gre-Nal dos 100 anos

Atualizada às 05h10min Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br


 Montagem de Cris Kist sobre foto de Cynthia Vanzella













Durante a semana espocaram críticas e manifestações de espanto sobre a incapacidade dos departamentos de marketing de Inter e Grêmio na promoção do Gre-Nal deste domingo. Todas elas compreensíveis.

Não é todo dia que um clássico desta envergadura — Carlos Alberto Parreira costuma dizer que só viu algo parecido na Turquia, com Fenerbahce e Galatasaray —  completa 100 anos. Chance única para um evento midiático espetacular de lucro certo.

Bem, fui investigar as razões que fizeram os dois clubes restringirem a data a meras citações sem alarde em seus sites.

Algumas conversas e telefonemas me fizeram concluir que por trás do constrangimento da Dupla de abraçar o centenário do Gre-Nal está o medo.

Não apenas o medo de deixar registrada na história uma derrota para o maior rival, já que outro Gre-Nal assim só em 2109. É um medo mais amplo. O Inter, fundado em 1909, fez cara feia e não promoveu o jogo pela imediata alusão ao primeiro clássico, 10 a 0 para o Grêmio. O Grêmio, nascido em 1903, se fez de rogado pela estatística. Em 376 clássicos, são 141 vitórias vermelhas contra 118 azuis, vantagem de 23 confrontos para o Inter. Os dirigentes dos dois clubes tiveram medo de, ao valorizar a trajetória centenária do Gre-Nal, dar um tiro no pé.

Grêmio e Inter entenderam que valorizar a data não seria um ação de marketing, mas de antimarketing.

Conversei com os vices de marketing de Grêmio e Inter, César Pacheco e Jorge Avancini. De ambos colhi o mesmo sentimento:

— De certa forma questionamos este entendimento de centenário. Preferimos deixar isso com a imprensa — disse Avancini.
— Não vamos fazer nada por que é jogo valendo ponto. Depois fica que nem quando o Renato vem aqui de técnico: a gente aplaude e perde — resmungou Pacheco com o seu bom humor costumeiro.

Pode parecer uma visão menor, tacanha, mesquinha, incapaz de mensurar a grandeza e abrangência de um dos maiores jogos de futebol do mundo, como sentenciou Carlos Alberto Parreira ao comparar a pulsação do Gre-Nal com os clássicos vividos por ele em vários continentes.

Mas será que não foram estes exageros, estes surrealismos, estas ações desprovidas de lógica, algumas delas quase folclóricas e pouco inteligentes, será que não foi justamente tudo isso que fez o Gre-Nal alcançar este patamar de universalidade e reconhecimento?

Me parece que, paradoxalmente, a desvalorização do centenário do Gre-Nal por parte de seus maiores envolvidos talvez seja a mais apaixonada das declarações de amor.

Quem ama protege. Por medo, Inter e Grêmio tentam se proteger do centenário do Gre-Nal celebrado este domingo no Olímpico. Para Inter e Grêmio, nada pode ser maior que eles. Nem mesmo o jogo que os eternizou.
 

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