| 12/05/2009 04h51min
Com a água chegando até as torneiras de Inhacorá, no noroeste do Estado, somente durante cinco horas por dia, a população se dividiu no apoio ao primeiro dia de paralisação dos serviços públicos da prefeitura.
A medida, realizada em conjunto com outros 20 municípios da região, vai até sexta-feira com a intenção de chamar a atenção do governo federal para as dificuldades da estiagem.
A prefeitura não atendeu ontem, mas o posto de saúde funcionou de forma normal, a exemplo da coleta de lixo. Na área rural, ainda não houve a realização de obras para distribuição de água. A única operação foi a abertura de um poço artesiano, feito por máquinas do governo, que depois seguiram para Alecrim.
– Não sei do que adianta paralisar as atividades se não está sendo feito nada no interior. A situação está difícil é no campo. Precisamos de chuva urgentemente – disse o agricultor Adriano Postai, 40 anos, contrário à
paralisação.
Proprietário de um posto de
combustível no centro da cidade, João Avelino Zimermann, 43 anos, apoia a medida da prefeitura, apesar de sentir duplamente os prejuízos da seca. Além do aumento do número de cheques devolvidos nas últimas semanas, ele teve de cancelar a lavagem de carros em razão do racionamento de água na cidade. Por semana, tirava cerca de R$ 200 na limpeza de veículos.
– Claro que não é o certo a prefeitura parar as atividades. Mas nesse momento é a única forma de chamar a atenção ao nosso problema. Os produtores estão com contas vencendo e não têm dinheiro, precisam de ajuda do governo – declarou Zimermann.
No município vizinho de Barra do Guarita, o produtor rural José Gilmar Denes, 37 anos, queria a ajuda de um técnico agrícola e de uma máquina da prefeitura para fazer silagem com o milho restante em sua plantação. Não conseguiu.
– É ruim não poder contar com a ajuda que precisava. Mas temos que entender que a prefeitura está enfrentando dificuldade
– conformou-se.
O pescador
Valmor Machado Pereira, 46 anos, buscava um consolo ontem. Ele retira o sustento das águas do Rio Uruguai, mas não consegue sequer tirar um quilo de peixe por dia – até o ano passado, conseguia reunir até 20 quilos diários.
– O rio está tão seco que nem o barco consegue andar direito. Nunca vi algo parecido – enfatizou Pereira.
Com a paralisação das aulas na rede municipal de Barra do Guarita, estudantes foram os poucos que conseguiram se divertir ontem. Eles aproveitaram a folga inesperada para disputar uma partida de futebol.
Em gráfico, entenda por que a região é a mais atingida pela estiagem no Estado:
Moradores de três cidades do norte do Estado narram as dificuldades de viver onde a água é rara:
O protesto em Inhacorá |
O QUE FUNCIONOU |
Atendimento de saúde |
Coleta de lixo |
O QUE NÃO FUNCIONOU |
Repartições |
Escolas de rede municipal |
Frota de máquinas |
Distribuição de água |
Barra do Guarita, um dos municípios com aulas suspensas, poderá festejar em breve o fim da seca, dia a meteorologia
Foto:
Daniel Marenco