| 12/02/2009 11h20min
O caso Gustavo Nery, lateral-esquerdo que está para deixar o Inter, é o exemplo mais recente de um fenômeno recorrente no futebol gaúcho. Com frequência, jogadores chegam a Porto Alegre com a sensação de que é uma questão de tempo para que se tornem titulares absolutos. Alguns vêm consagrados do Exterior, outros retornam como ídolos da torcida. Porém, nenhuma das credenciais serve quando o jogador entra em campo e não corresponde à expectativa.
Confira alguns casos de 2008 para cá:
INTER
Gustavo Nery
É verdade que o lateral-esquerdo chegou ao Inter, na metade de 2008, buscando a reabilitação profissional. Havia passado meses sem jogar no Fluminense. No entanto, vinha recomendado pelas grandes temporadas que fez no Corinthians, principalmente em 2005, quando o clube paulista tinha um
grande time com Carlos Alberto, Roger, Nilmar e Tevez, entre outros.
Desembarcou mostrando empenho e dava entrevistas dizendo que estava no lugar ideal para recuperar a velha forma. Assim que teve condições físicas, ganhou vaga de titular com Tite. Porém, não correspondeu às expectativas e logo perdeu o lugar para Marcão, zagueiro deslocado. Jogava apenas com o time reserva. Na pré-temporada, aceitou mudar de função. Treinou na meia-esquerda, na esperança de jogar. Não adiantou. No início de fevereiro, pediu para a diretoria que o liberasse para procurar outro clube.
Daniel Carvalho
Revelação das categorias de base, formou uma dupla histórica com Nilmar em 2003 e entrou para a galeria de ídolos da torcida. Após quatro anos no futebol russo, voltou por empréstimo. Seu desembarque atraiu uma pequena multidão ao Aeroporto Salgado Filho (foto), em uma madrugada fria de julho de 2008. Chegou muito acima do peso e recém
recuperado de lesão. Antes de obter totais
condições físicas, aceitou entrar em campo porque o time estava desfalcado e precisava dele. Fez um gol de pênalti em um Gre-Nal, mas não convenceu. Foi retirado do time para fazer um recondicionamento físico, mas nunca voltou. Jogou as partidas da Sul-Americana quando o Inter priorizava o Brasileirão e as do Brasileirão quando o clube passou a preferir a Sul-Americana. Deixou a torcida nervosa com a sua aparente falta de empenho e dedicação. Ao fim do empréstimo, não renovou com o Inter.
Bustos
Após boa temporada no Grêmio em 2007, não ficou no Olímpico porque o clube não quis comprá-lo em definitivo ao Deportivo Cúcuta. Pois o Inter foi lá e investiu para adquirir o lateral-direito titular da seleção colombiana. No Beira-Rio, porém, Bustos nunca se firmou. As famosas cobranças de falta não entraram. Fez um gol com bola rolando logo na estreia,
contra o Brasil-Pe, mas não foi
suficiente. Lesões e convocações também atrapalharam sua sequência. Durante uma longa viagem sua com a seleção, o Inter trocou de técnico. Tite substituiu Abel Braga e começou o trabalho sem contar com o colombiano, que, quando retornou, nunca mais assumiu a condição de titular. O treinador supostamente considerava o lateral deficiente na marcação. Ele deu entrevista reclamando e dizendo que havia parado os argentinos Messi e Agüero em partida das Eliminatórias. Não adiantou. Foi dispensado na virada do ano e emprestado ao Millonarios, da Colômbia.
GRÊMIO
Richard Morales
O centroavante uruguaio de 1m96cm chamou a atenção por seus gols quando defendia o Nacional-URU. No início de agosto, esteve a ponto de se transferir para o Flamengo, mas as imagens de um protesto de torcedores na Gávea assustaram a
família do gigante no Uruguai. O jogador também queria se afastar
de brigas e confusões e preferiu não ir para o Rio de Janeiro. Em setembro, chegou a Porto Alegre como reforço para vestir a camiseta 9 do Grêmio e sair jogando. No entanto, nunca chegou a ser titular absoluto de Celso Roth. El Chengue, como é conhecido desde criança, deixa mais saudade pela figura folclórica que é do que por gols marcados — foi apenas um, contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro.
Marcel
Recomendado pelas boas passagens por Coritiba e São Paulo, veio da Europa e teve duas chances para se firmar como o centroavante do Grêmio. Em 2007, não correspondeu e voltou ao Benfica, clube português dono dos seus direitos federativos. Mesmo assim, foi recontratado em 2008. Até fez alguns gols, mas não convenceu de novo. Curiosamente, foi mantido como titular por bastante tempo, o que provocou muitas críticas ao técnico
Celso Roth, inclusive do colunista de ZH Paulo
Sant'ana. Como o outro jogador contratado para a função — Richard Morales — não aprovou, Marcel terminou o ano formando o ataque com Perea. No início de 2009, o Grêmio trouxe Alex Mineiro, Marcel foi embora e Perea ficou esquecido na reserva.
Julio dos Santos
Revelado pelo Cerro Porteño, foi convocado para a seleção paraguaia e contratado pelo Bayern, de Munique. Porém, não conseguiu se firmar e foi negociado com Wolfsburg, da Alemanha, e depois com o Almería, da Espanha. Uma fratura na perna direita o deixou fora de ação por cinco meses e prejudicou sua trajetória na Europa. Em 2008, o Grêmio trouxe o meia por empréstimo junto ao Bayern. No Olímpico, não caiu nas graças de Celso Roth, que o considerava muito lento. Além disso, problemas pessoais, como a morte do seu irmão no Paraguai, o deixaram abatido durante a maior parte da passagem por Porto
Alegre. Acabou dispensado e transferido
para o Atlético Paranaense, em junho.
Gustavo Nery pediu à diretoria do Inter que o liberasse para procurar outro clube
Foto:
Juliano Schüler