| 11/10/2008 19h02min
Mário Sérgio Pontes de Paiva é um cara simples, que gosta de coisas simples. Foi uma das coisas que o identificou com o Figueirense. O clube representou uma retomada na carreira como técnico e isso faz com que o treinador tenha muito carinho pelo alvinegro e pela cidade que o acolhe.
Por isso, apesar da felicidade em retornar a Florianópolis, vive a angústia de ainda ver o time em situação delicada. Mas está cheio de esperança, pelo resposta que os jogadores têm dado, em campo, ao que ele implanta nos treinos e ao que imagina para as "decisões" que o Furacão tem enfrentado para fugir da parte perigosa da tabela de classificação do Brasileiro.
Ele é avesso à idéia de que "fez mágica" ao transformar um time em vertiginosa decadência em uma equipe sólida. Os jogadores, porém, sabem que a boa fase recente tem o dedo do treinador e atribuem a evolução ao estilo do técnico, baseado em muita disciplina e muito trabalho. Pode não ser mágica, mas a fórmula tem dado
certo. Por isso, Mário Sérgio e
Figueirense vivem, hoje, uma relação de total reciprocidade.
Diário Catarinense — Como você definiria este momento da sua vida?
Mário Sérgio — É um momento difícil, mas excelente, também, em função de eu estar onde eu quero, onde eu gosto, feliz por eles terem me dado a oportunidade de trabalhar novamente aqui e eu espero ansiosamente ajudar o pessoal a sair desta situação o mais rápido possível.
DC — Você sempre se refere ao Figueirense com muito carinho, o que o clube representa na sua carreira?
Mário Sérgio — Quando eu vim para cá no ano passado, eu estava totalmente afastado e até sem motivação para continuar na profissão. Eles me deram aquela oportunidade, eu vim, fiz um ambiente muito bom aqui, com o pessoal do suporte, a direção, a torcida, enfim, todos. Eu me identifiquei muito com o lugar, com a cidade, que eu acho linda, e com o
clube, pela simplicidade das pessoas, sem tanta frescura como foi em outros clubes
onde eu trabalhei.
DC — É bom trabalhar assim, com simplicidade?
Mário Sérgio — É o ideal, esse pessoal afetado me incomoda muito. Eu tive muitos problemas de relacionamento em outros clubes por onde eu passei por causa disso, eu não gosto de muita sofisticação, gosto das coisas mais simples.
DC — No ano passado, você elogiava muito o grupo, dizendo que tinha jogadores aplicados e taticamente inteligentes. Pelo que você tem conseguido implantar, daria para dizer que o elenco atual tem as mesmas características?
Mário Sérgio — Sim, é igual ao outro. E eu acho que ele está se incorpando cada vez mais em função da identificação comigo, com a torcida, com o envolvimento todo da cidade, de vocês da imprensa, com tudo. Existe uma mobilização, jamais houve um ataque por parte do torcedor, muito pelo contrário, eles deram a maior prova
de carinho e respeito a todos nós, e isto está dando um crescimento quase que
obrigatório.
DC — Na terça-feira, antes do treino, você bateu bola com os auxiliares e a gente ali fora estava lembrando de quando a gente assistia aos jogos com você em campo. Você sente saudade do tempo de jogador?
Mário Sérgio — Não tenho, e vou dizer o porquê: jamais uso minha história como jogador, isso é uma volta ao passado que não tem razão de ser. Tenho que trabalhar em cima do presente, do que eu sou hoje, como pessoa, como profissional, acho que tenho muito mais a dar para eles pelo presente do que pelo passado.
DC — Mas o que você viveu em campo não ajudou na sua formação como técnico?
Mário Sérgio — Não, é bem diferente. Eu tinha valores totalmente diferentes com relação à disciplina, com relação ao jogo, em si. Hoje eu sou um cara voltado mais para o lúdico, para o prático, para a disciplina, para o jogo competitivo. Não que
eu não dê ênfase à parte técnica, eu gosto da parte técnica, mas dou ênfase muito
mais à parte tática, à guerra, no bom sentido, o sentido de ser aguerrido, de lutar pela vitória, de querer ganhar, independente da tua condição técnica.
DC — E como você, que já dirigiu o Atlético-PR antes de chegar ao Figueirense, vê o nível técnico do campeonato deste ano?
Mário Sérgio — Eu vejo times que se prepararam adequadamente para o campeonato e eu falo sempre do aspecto físico, que é fundamental. De clubes que tiveram um trabalho bem planejado, de chegar neste ponto do campeonato em ascendência, e outros que não se prepararam. Não que não quisessem, o caso específico do Atlético-PR. Como começava o campeonato em cima das férias, eles não se prepararam fisicamente para uma temporada que é muito longa. Então, hoje você chega lá e não sabe o que fazer, porque os caras estão mal. Se você passar o pau nos caras, eles viram; se você não passar o pau, você vai disputar o resto do campeonato com déficit de
condicionamento físico. Então você fica entre a
cruz e a espada.
DC — E qual foi o melhor time que você enfrentou neste campeonato?
Mário Sérgio — O Cruzeiro foi o time que mais me impressionou, aqui, contra a gente.
DC — Você fez uma breve avaliação, depois do jogo com o Palmeiras, da pontuação que você queria ter alcançado nestes últimos jogos. Você faz projeção da pontuação que você gostaria que o time atingisse até o final do campeonato?
Mário Sérgio — Não, não gosto de fazer isso, nunca trabalhei com isso. Acho que assim cria um clima muito tenso. Eu trabalho o dia-a-dia, jogo a jogo, concentrado naquilo. Se você começar a pensar muito para a frente, você esquece daquele próximo jogo, que é fundamental.
DC — Mas dá para projetar onde o clube pode chegar, ou seja: a idéia já é chegar à Sul-Americana, ou ainda tem que pensar em se
distanciar o máximo que for possível da zona de rebaixamento?
Mário Sérgio — Nosso time tem
provado que a gente pode pensar alto. Tem jogado muito bem. Do Cruzeiro para cá, sempre evoluiu, sempre jogou bem, sempre jogou no limite. O profissionalismo que eu venho constatando no dia-a-dia me dá muita esperança deste time conseguir chegar à Sul-Americana.
Mário Sérgio: Eu me identifiquei muito com o lugar, com a cidade, com o clube e com simplicidade das pessoas
Foto:
Flávio Neves