| 04/09/2008 04h11min
Fechada a janela de transferências para a Europa, cujas rajadas de vento produziram estragos consideráveis no Inter, desde a derrota de domingo diante do Sport está em curso uma operação silenciosa para tentar salvar o ano. A ordem é imprimir mão-de-ferro no vestiário, acometido de alguns comportamentos individuais que desagradaram aos dirigentes.
É a missão que caberá ao técnico Tite e ao assessor da presidência Fernando Carvalho, produto de uma reunião sigilosa da comissão técnica (Tite, o auxiliar Cléber Xavier e o preparador Fábio Mahseredjian) e os homens do futebol, aí incluído o presidente Vitorio Piffero. A avaliação foi de que o Inter estava mais desfocado do campeonato do que um fotógrafo com grave miopia.
Mesmo os jogadores de menor expressão julgaram que poderiam ser alvos de propostas concretas do Exterior. Assim, se Guiñazu, Alex e Nilmar perderam a linha ao não terem sido vendidos, imagine Wellington Monteiro, Edinho ou Danny Morais, que receberam meras
sondagens em vez de
propostas concretas de milhões de euros. Nesse sentido, a saída do técnico Abel Braga para o Al-Jazira, dos Emirados Árabes, ajudou. O sonho era de que, por indicação do ex-técnico, os petrodólares jorrassem.
Carvalho se recusa a entrar em detalhes sobre a crise. Mas coloca o peso dos títulos da Libertadores e do Mundial sobre uma promessa:
— Anota aí e me cobra depois: hoje (ontem) é 3 de setembro. Em um mês, tudo estará diferente. Em termos de desempenho e resultados.
Alguns episódios específicos também contribuíram para o sentimento de vestiário desfocado. Daniel Carvalho foi visto em um famoso bar da Zona Sul após o último Gre-Nal da Copa Sul-Americana. Não fez nada de errado, é verdade, mas no dia seguinte, às 6h, deveria estar no Salgado Filho para a viagem até Recife.
Dirigentes e comissão técnica esperavam que ele descansasse o máximo possível, já que trabalha para recuperar a parte física. Vinha entrando em todos os
jogos, mas contra o Sport ficou no banco. Ontem,
começou o treina na reserva de Luiz Carlos e Walter.
O empresário de Nilmar, Orlando da Hora, chegou a viajar no mesmo vôo da delegação no no trajeto São Paulo-Porto Alegre na volta de Recife, segunda-feira. Isso menos de 24 horas depois da derrota para o Sport e com o jogador seduzido por proposta milionária. Vinha tratar da venda para o Palermo, frustrada por Piffero. Como os dois devem ter falado de tudo durante o vôo, menos sobre o que deu errado na Ilha do Retiro, dirigentes e alguns jogadores não gostaram de ver os dois juntos naquela circunstância.
Outros episódios mostram que é preciso mais controle no vestiário. A bronca pública de Índio em D'Alessandro, depois de o argentino assistir a passagem de um adversário em direção ao ataque, é um deles. Exemplo de respeito aos companheiros, Índio explodiu. Ontem, admitiu o exagero e negou que a cobrança tenha prosseguido no vestiário.
— Realmente cobrei dele. Cobrei meio forte até, fiz gestos e tudo o mais,
mas depois nos acertamos ali
mesmo — afirmou Índio.
Alguns jogadores apontam a saída de Fernandão como um dos fatores para a perda de rumo. O ex-capitão harmonizava o vestiário na hora ruim. Quanto a Tite, no Beira-Rio, o comentário mais comum é de que ele é o menos culpado.
Ainda que alguns descontentes comentem nos bastidores acerca de suposto cansaço com a sua "falta de objetividade no discurso". A frenética compra e venda de jogadores, com alguns contratados sem jogar há algum tempo, estão na conta da direção.
Mas a pressão sobre Tite aumentará em caso de tropeço contra a Portuguesa, sábado. Mesmo que, agora, o técnico tenha Carvalho ao seu lado na tarefa de reordenar o vestiário.
Depois de reuniões com a direção, Tite adotou como medida emergencial a busca pela concentração a partir de reorganização do vestiário
Foto:
Jefferson Botega