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 | 06/05/2008 07h10min

Guiñazu jogou meio tempo com um furo no joelho

Jogadores revelam bastidores da goleada

Diogo Olivier e Guilherme Fister

Assim que Clemer marcou de pênalti o surreal oitavo gol, uma certeza emergiu com a força do ciclone tropical que varreu o Estado por estes dias. Algo aconteceu. E algo incomum, totalmente fora dos padrões de uma final.

Como a conversa decisiva de Fernandão e Magrão no campo, logo após o segundo gol. Ou a revelação espantosa: Guiñazu jogou meio tempo com um furo no joelho.

Veja aqui o noticiário antes, durante e depois da final

Antes da conversa de Fernandão e Magrão e da história de Guiñazu, uma terceira revelação. Os jogadores do Inter nem se preocuparam em assistir a DVDs do primeiro jogo da final. Não houve aquela cena clássica de examinar os erros com o controle remoto na mão. Não por soberba - mas por raiva. Dez anos de raiva, precisamente, desde a perda do Gauchão de 1998.

— Vídeo? Para que vídeo? — pergunta Fernandão. — Tínhamos perdido três vezes para eles neste ano. Conhecíamos o Juventude bem até demais. A gente se encontrava no treino e logo surgia a conversa sobre o jogo de Caxias. O que fazer no Beira-Rio?

O time de Abel Braga, portanto, passou a semana ruminando o Juventude. E seguiu assim durante o jogo, gol após gol. Antes mesmo do primeiro, o do cabeceio surpresa de Danny Morais, o Inter já tinha vencido quatro disputas aéreas contra os zagueiros do Juventude. Por isso, mesmo que os treinos da semana não tivessem focado este aspecto como arma principal, Fernandão disse a Bustos e a Alex a certa altura: o caminho era pelo alto. Havia algo errado na zaga de verde. Na volta da comemoração do segundo gol, ainda antes do reinício da partida, ocorreu a conversa decisiva.

— Na mesma hora, virei para o Magrão e disse: "Vamos seguir em cima. A hora de matar é agora" — disse o capitão. — Dava para sentir o abatimento do Juventude naquele instante. Acho que ali se desenhou o jogo.

Outro fator decisivo para o Inter manter a sanha no segundo tempo foi Guiñazu. Estava 4 a 0. O argentino vinha de artroscopia no joelho direito. A contar da cirurgia, 14 dias. Para que arriscar, se os sinais vitais do Juventude já não existiam? Pior: num carrinho, o joelho raspou na grama molhada e a membrana que começava a se formar para proteger um dos dois pequenos furos da operação rompeu. Ele quis voltar, é lógico.

— Tudo bem, tranqüilo, tranqüilo — repetia o argentino no intervalo.

Mas havia risco de infecção. Era um furo pequeno, mas era um furo. Um túnel aberto até o menisco e o ligamentos. Foi a preocupação do fisioterapeuta Rodrigo Rossato.

— Providenciamos um curativo rente ao joelho justamente para evitar este problema. Ainda com mais com chuva e gramado molhado — confidenciou Rossato.

Enquanto isso, Abel gritava:

— Só não acabou se a gente não quiser!

Nesse embalo, Guiñazu voltou para ajudar na construção da outra metade da goleada. O que contagiou o time todo, é claro.

— Esse aí não é humano — ainda comentou Marcão.

Esse era o clima. Inclusive no pênalti em Andrezinho, a última sessão de terapia antes da alta. Nilmar quis bater, mas Iarley pegou a bola. Andrezinho caminhou até ele:

— Posso?

— Vai — concedeu Iarley.

Nisso, alguém grita:

— Deixa para o Clemer! Deixa para o Clemer!

A esta altura, o goleiro já estava no círculo central, braço erguido, com a torcida gritando seu nome. O time inteiro sorriu. O jogador que mais sofreu com a touca do Juventude — Clemer está no Inter desde 2002 — daria a última e surreal estocada da final.

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