| 26/02/2008 13h02min
Dois dias após a explosão de uma bomba caseira que foi arremessada contra um torcedor durante uma partida de futebol em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, a polêmica sobre a presença das torcidas organizadas nos estádios catarinenses ressurge com a divulgação de vídeos com imagens de torcedores exibindo armas e granadas e incitando o confronto entre os grupos rivais no site Youtube, na internet.
Nos vídeos — montados a partir de registros fotográficos feitos dentro e fora de estádios catarinenses e creditados à torcida Mancha Azul, do Avaí — jovens aparecem armados com pistolas, revólveres, armas brancas e pedaços de pau e até com uma granada e munições de diversos calibres.
Os torcedores exibem camisas e faixas de torcidas organizadas rivais, supostamente recolhidas após confrontos nos arredores de estádios. A trilha sonora também é produzida pelo grupo que, em ritmo de rap, faz referência à violência fora de campo.
Entre os versos,
destacam-se: "Se pegar tudo, espanca até
matar. O terror tem nome, Mancha Azul maldade"; "Queremos violência e fazemos o arrastão"; e "Bomba caseira, tiro de oitão (revólver calibre 38), Mancha Azul é maldição".
Em partes do vídeo, membros aparecem em cima de ônibus e escalando bens públicos. Um dos vídeos teria sido gravado na sede de um dos "comandos", como são chamados as diferentes facções do grupo, da Mancha Azul — o que comprova a origem das imagens.
A promoção de atos de violência e contra a ordem pública são comprovados, ainda, com a divulgação de recortes de jornais que fazem referência ao episódio em que torcedores atearam fogo em cadeiras no estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis.
O presidente da torcida organizada Mancha Azul, do Avaí, Fabrício Amorim, disse que não tem conhecimento deste vídeo e que a publicação não partiu da direitoria e da torcida.
— Isso (vídeo) foge do controle da torcida. E a internet é uma terra sem lei, qualquer um pode
ter colocado — disse.
Torcida
repudia ação de torcedores que incitam a violência
Para o presidente da torcida Raça Azul, do Avaí, a presença de torcedores que vão ao estádio para promover a violência não é exclusividade do clube.
Segundo Moacir Pereira Filho, o Moinha, nos últimos anos a presença de grupos violentos envolvidos com crimes entre as torcidas catarinenses tem aumentado e fugiu do controle dos dirigentes dos grupos de torcedores, dos clubes e das instituições de Segurança Pública no Estado.
— A impunidade faz com que se perpetue a violência. Já tivemos tiros disparados dentro de um estádio catarinense. Ano passado uma pessoa morreu — disse Moacir, que ressalta a diferença entre as ações de prevenção e repressão a crimes em estádios em outros estados.
— É um atestado de incompetência. Como que em outras regiões em que o número de torcedores nos estádios é bem maior, como no Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, as polícias
conseguem impedir casos como esses?— indaga.
Para o dirigente de torcida, o problema da violência nos estádios não tem recebido a devida atenção. Ele alerta que os incidentes envolvendo o confronto de torcidas começaram já no início do campeonato, quando um torcedor do Criciúma foi ferido na cabeça — levando 20 pontos — em Itajaí.
— Cada torcida tem grupos de torcedores que seguem uma filosofia diferente da difundida pela própria equipe que fazem parte. Uns se dedicam a promover a rivalidade, a violência, por exemplo.
Moacir critica medida adotada pela Federação Catarinense de Futebol (FCF), na segunda-feira, que decidiu pela proibição da presença de torcidas organizadas em partidas disputadas na casa dos adversários.
— Não vai ter efeito. "Eles" (torcedores que incitam a violência) vão comparecer aos jogos da mesma forma e, agora, será ainda mais difícil identificar de quem partiu a agressão. A proibição dos jogos é a comprovação de que os órgãos de segurança não conseguem conter uma
"gurizada" violenta, uma facção de
bandidos, que acaba se infiltrando nas torcidas organizadas. E nós (integrantes de torcidas organizadas) acabamos sendo marginalizados — acredita.
Para Pereira, a solução mais acertada seria o cadastro dos torcedores — com fotos e informações pessoais — nos estádios.