| 24/07/2007 15h56min
O menino João Souza tinha 10 anos quando descobriu a esgrima. Em 1993, ele praticava natação, mas desistiu das piscinas para se tornar um espadachim. Quatorze anos depois, o gaúcho conquistou o bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro no florete, quebrando um jejum de 32 anos de medalhas para o Brasil nessa modalidade. O atleta do Grêmio Náutico União afirmou nesta terça, em entrevista ao clicRBS, que a esgrima precisa ser melhor divulgada no país e o Pan pode contribuir com isso:
– Acho que se houvessem leis efetivas de incentivo ao esporte amador já melhoraria bastante. E agora, com toda a visibilidade que está sendo dada a todo o esporte brasileiro com o Pan, espero que a situação melhore também – destacou atleta, que acredita que mais pessoas se sintirão motivadas a praticar esse esporte após as três medalhas de bronze conquistadas no Rio.
– O Pan, sem dúvida, vai ajudar a esgrima e outros esportes menos conhecidos a evoluir. Toda essa cobertura da mídia traz ótimos benefícios, como divulgar bastante os esportes para que eles tenham mais praticantes – completou.
Estudante de Direito na UFRGS, João se formaria no final do ano, mas trancou a faculdade para se dedicar totalmente ao esporte, sua prioridade no momento.
– No momento, minha prioridade é a esgrima, mas como não sou profissional, mais tarde terei de me dedicar ao Direito – declarou.
Segundo melhor esgrimista das Américas colocado no ranking mundial, que define vaga para Pequim em 2008, o atleta está motivado em garantir vaga na Olimpíada. Para manter-se entre os primeiros, ele participará ainda este ano do Campeonato Pan-Americano, no Canadá, em agosto, e do Campeonato Mundial, na Rússia, em outubro.
– Sim temos chance (em Pequim). No florete masculino vão dois atletas da América pelo ranking mundial. Hoje eu sou o segundo. Logo, existem chances – salientou.
Questionado sobre os custos para praticar esgrima, João Souza destacou que a modalidade não é cara.
– Para iniciantes, os clubes normalmente emprestam os materiais. Mais tarde, para que os praticantes adquiram seus próprios materiais também não precisam gastar muito. Uma lâmina de florete por exemplo, não custa mais do que R$ 50 – explicou.
Ana Maria Acker
ana.acker@rbsonline.com.br
A íntegra da entrevista:
Pergunta clicRBS - O que significa para você e para a esgrima brasileira a conquista dessa medalha, após um jejum de 32 anos de pódio nessa modalidade?
João
Souza - Para mim significa muito. Treinei muitos anos objetivando essa medalha. Sinto-me muito feliz com essa
conquista. Para a esgrima brasileira, espero que represente um avanço, e que ela estimule mais pessoas a praticarem o esporte.
Pergunta de Birck - Radialista - Parabéns pela medalha, de todos nós da Rádio Guaramano de Guarani das Missões, Rio Grande do Sul
Pergunta clicRBS - Como foi competir diante da torcida brasileira no Pan? A pressão foi muito grande?
João Souza - Sim, senti alguma pressão no início do campeonato, especialmente por não estar acostumado a jogar com tanta torcida. Mas depois, acho que reagi bem.
Pergunta de Isabela - Parabéns pela medalha! Como é a seletiva da esgrima para Pequim-2008? O Brasil tem chances de levar atletas na modalidade?
Joãoo Souza - Sim temos chance. No florete masculino vão dois atletas da América pelo ranking mundial. Hoje eu sou o segundo. Logo, existem
chances.
Pergunta de Ju Lessa - Em um esporte como este, que exige muita
concentração principalmente no movimento do adversário, a torcida fervorosa não atrapalha?
João Souza - Acho que não atrapalha. Estimula muito, isso sim.
Pergunta clicRBS - Você participará do Pan-Americano de Esgrima, no Canadá, em agosto, e do Mundial, na Rússia, em outubro?
Joãoo Souza - Sim, ainda tenho dois campeonatos muito importantes esse ano, o Pan, no Canadá e o Mundial, na Rússia.
Pergunta de SS - Qual a orientação para alguém que mora em Florianópolis-SC e pretende aprender a esgrima?
João Souza - Em Santa Catarina ainda não existem clubes de esgrima, infelizmente.
Pergunta de clicRBS - Voltando um pouco no tempo, o que te motivou a praticar esgrima?
João Souza - Comecei por acaso. Passava sempre pela frente da sala de esgrima e resolvi iniciar. Gostei e não
parei mais. Atualmente o que mais me motiva no esporte acho que é o fato de ser muito tático.
Pergunta clicRBS - Que idade tu tinhas? Praticava algum outro esporte na época?
João Souza - Iniciei a esgrima em 1993, quando tinha 10 anos. Na época, também fazia natação.
Pergunta de Ju Lessa - A esgrima é um esporte seguro?
João Souza - A esgrima é um esporte super seguro. Quando se utilizam todos os materiais de proteção, acredito que seja impossível ocorrerem acidentes.
Pergunta clicRBS - Você trancou a faculdade de Direito para se dedicar totalmente ao esporte. Como é a vida de quem se divide entre os treinos e outra carreira profissional?
João Souza - Não é fácil. No momento, minha prioridade é a esgrima, mas como não sou profissional, mais tarde terei de me dedicar ao Direito.
Pergunta de Tirza - Mas tu já praticavas outro esporte antes?
João
Souza - Sim, já tinha praticado outros esportes, mas foi com a esgrima que eu mais me identifiquei.
Pergunta clicRBS - Quais são as principais dificuldades que os atletas encontram na hora de buscar patrocínio?
João Souza - A falta de interesse das empresas em patrocinar atletas. O empresário normalmente não enxerga os benefícios que patrocinar o atleta podem lhe trazer.
Pergunta clicRBS - Como essa situação pode melhorar? O Pan pode ajudar a dar mais visibilidade a outras modalidades no país?
João Souza - Espero que sim. Acho que se houvessem leis efetivas de incentivo ao esporte amador já melhoraria bastante. E agora, com toda a visibilidade que está sendo dada a todo o esporte brasileiro com o Pan, espero que a situação melhore também. O Pan, sem dúvida, vai ajudar a esgrima e outros esportes menos conhecidos a evoluir. Toda essa cobertura da mídia traz ótimos benefícios, como divulgar bastante os esportes para que eles tenham mais praticantes.
Pergunta de Tirza - E agora o que vem pela frente? Mais algum
campeonato, Olimpíada?
João Souza - Agora, no final de agosto tenho que jogar o campeonato Pan-Americano no canadá. Esse campeonato é importantíssimo para buscar a minha classificação à Olimpíada.
Pergunta clicRBS - Há cerca de 500 esgrimistas em todo o Brasil. Quantos desses atletas treinam no RS?
João Souza - Só no grêmio náutico União, que é o meu clube, treinam cerca de 130 pessoas. No RS inteiro eu não sei, mas acredito que sejam cerca de 200 praticantes.
Pergunta clicRBS - Você destacou que a esgrima é um esporte muito tático. Há exigências físicas para a prática desse esporte, como peso, altura?
João Souza - Por ser muito tático, as diferenças de peso e altura podem ser usadas para favorecer os atletas. Por exemplo: para um atleta mais alto é mais vantajoso jogar mais longe do adversário, enquanto que um atleta mais baixo preferirá jogar
mais perto. Mas todos podem praticar. Já vi pessoas de diferentes tipos
físicos vencerem competições importantes.
Pergunta clicRBS - Em termos de material, a esgrima é um esporte caro?
João Souza - Não muito. Para iniciantes, os clubes normalmente emprestam os materiais. Mais tarde, para que os praticantes adquiram seus próprios materiais também não precisam gastar muito. Uma lâmina de florete por exemplo, não custa mais do que R$ 50.
Pergunta clicRBS - De que material são feitas as armas? Qual a vida útil delas?
João Souza - As armas são feitas de um metal que chamamos de maragin, que, pelo que sei, é um desdobramento do aço. A vida útil varia muito de acordo com o uso, mas em média dura uns seis meses (com uso normal).
Pergunta clicRBS - E a indumentária? Qual o valor médio?
João Souza - Como ultimamente tenho recebido materiais da confederação, confesso não estar muito
por dentro de tais valores.
João Souza largou a faculdade de Direito para se divulgar totalmente à esgrima
Foto:
André Roca
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clicRBS