| 18/04/2007 11h03min
São Leopoldo - Os hooligans dos Pampas
Desde o ano passado, a reportagem da Rádio Gaúcha acompanhou a movimentação das torcidas da dupla Gre-Nal. E nos últimos três meses esteve em meio aos integrantes das torcidas durante 18 jogos e cinco viagens, além de manter contato com grupos considerados mais violentos. Estes jovens integrantes das antigas torcidas organizadas moram em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Por isso, recebem o apelido de Hooligans dos Pampas.
Hooligans são grupos europeus que sentem prazer em brigar usando o futebol como pretexto. E não é por menos. Em 1999, durante baderna no metrô, o torcedor do Inter Eugênio Rafael Rezende, de 18 anos, morreu ao ser atingido por um poste após colocar a cabeça para fora do vagão. Em 2004, outro adolescente, de 16 anos, foi assassinado a tiros durante confronto entre torcidas e, no mesmo ano, dois torcedores foram baleados por gangue de time rival.
Os confrontos ocorrem no município há pelo menos sete anos. Colorados que se dizem integrantes da Camisa 12, do Inter, se concentram no bairro Rio do Sinos, e os gremistas, da extinta Super Raça, no bairro Vicentina. A reportagem constatou que é perigoso transitar sozinho no Centro da cidade com camisetas de torcidas. Jovens integrantes destas gangues andam armados e em grupos para causar distúrbios ou evitar ataques contra si. Em todos os casos, as vítimas de ataques e espancamentos são pessoas de São Leopoldo e que se intitulam integrantes de organizadas. Um dos jovens chegou a afirmar que "quem usa camisa de organizada não é de bem".
Somente este ano, a polícia de São Leopoldo investiga três casos envolvendo homicídios e uma tentativa de assassinato. Um destes episódios é o do torcedor colorado Madison Jonathan Garcez, de 14 anos, que há duas semanas morreu depois de uma roleta-russa com um revólver. Ele encontrou dois amigos que estavam armados por que horas antes haviam atingido uma casa onde ocorria uma festa de torcedores da extinta Super Raça, do Grêmio. Segundo o chefe de investigação da 2ª Delegacia de Polícia, Paulo Rogério da Silva, um jovem de 16 anos, integrante da Camisa 12 do Inter, confessou o crime.
Outro caso de rivalidade registrado, ocorreu dentro de um shopping, em janeiro. Um adolescente de 16 anos, torcedor da extinta Super Raça, levou um tiro no joelho direito em confronto com jovens da Camisa 12, do Inter. Antes de ser atacado, foi reconhecido pelo acusado e trocaram socos e pontapés. O autor do disparo fugiu e foi preso dias depois. Ele já esteve envolvido em outros confrontos de torcidas no município. O motivo da agressão é sempre o mesmo: rixa entre torcidas.
Vandalismo e confrontos
As ocorrências mais comuns no metrô, que liga a capital ao Vale do Sinos, são badernas, bebedeira e torcedores rivais que ficam nas passarelas atirando pedras nos vagões. Já em toda a cidade, a polícia de São Leopoldo registrou também o uso de bombas de fabricação caseira em ataques e confrontos, além de tumultos, espancamentos, roubos e arrastões em locais públicos.
– Não podem se encontrar, não são gente. Para mim, isso é um filme de terror, vivo em pânico – relatou a mãe do adolescente baleado no shopping.
– Eu sempro digo para eles, já que perdemos um filho há alguns anos, que se continuarem nesta espécie de seita, é cadeia ou cemitério – desabafou o pai do jovem.
A Camisa 12 do Inter negou a participação dos envolvidos na torcida e expulsou os que foram identificados. O sociólogo Rodrigo Azevedo alerta para o sentimento de vingança em São Leopoldo:
– É um efeito bola de neve. Situação semelhante a uma guerra entre famílias. A vingança permanentemente se colocando gera a resposta. Os dois grupos produziram vítimas dos dois lados, exacerbando o conflito. É preciso identificar os locais onde ocorrem as agressões e inibir as brigas com policiamento – afirma
O comante regional da Brigada
Militar no Vale do Sinos, tenente-coronel Carlos Magno, fala
das estratégias para desestimular tais ações:
– Estamos tentando evitar conflitos, principalmente em dias de jogos, no deslocamento de torcidas a fim de desestimular os torcedores. Por já se conhecerem, os torcedores procuram o conflito mesmo em ocasiões em que não há o componente jogo. Isso é um subterfúgio das torcidas organizadas que em função de outros elementos acabam redundando nisso. Por trás dessas torcidas, estão conflitos do dia a dia que servem como justificativa para o confronto. Os times servem como pano de fundo para as rixas – avalia Magno.
CID MARTINS E JOCIMAR FARINA/RÁDIO GAÚCHA E FÁBIO ALMEIDA/RÁDIO FARROUPILHA