| 10/03/2007 16h11min
A queda-de-braço travada até o início da semana entre o deputado federal Michel Temer (SP) e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, pela presidência do PMDB prenunciava uma disputa acirrada na convenção nacional do partido. A desistência do ex-ministro, no entanto, transformou em mera formalidade o encontro deste domingo, em Brasília. Concorrendo em chapa única, Temer precisa de apenas 20% dos votos para se reeleger.
Depois de afirmar categoricamente que não abandonaria a disputa, Jobim anunciou a desistência na terça. Atribuiu a decisão à suposta preferência do presidente Lula pela candidatura de Temer e à interferência do Planalto, que aguardava a eleição no partido para concluir a reforma ministerial. Apoiadores de Jobim e lulistas de primeira hora, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador José Sarney (AP) ameaçaram romper com o governo.
Aliados de Jobim, que reuniram o apoio de seis dos sete governadores do partido, 30 deputados e 18 senadores, chegaram a anunciar boicote à convenção. Para evitar dissabores, o grupo de Temer trabalhou durante a semana para cicatrizar feridas e evitar o esvaziamento da convenção. Os aliados do deputado acreditam que haverá quórum suficiente para eleger a chapa de Temer - contabilizam mais de 400 dos 782 votos de convencionais.
Na noite de terça, o presidente do PMDB foi ao Palácio do Planalto para aconselhar Lula a esperar a eleição antes de deflagrar a reforma ministerial. Foi mais uma demonstração de que Temer – antes hostil ao governo mas agora já considerado neolulista – se tornou peça-chave na coalizão de Lula.
Segundo o deputado federal Eliseu Padilha, a convenção será um momento importante para o partido discutir uma "nova estratégia para construção de um projeto de poder":
– Será um convenção festiva, com a consagração de uma chapa de coalizão. O PMDB é um partido de muitos caciques regionais. Os descontentamentos acabam gerando dissidências. Nos anos anteriores, essas diferenças representavam votos contra o governo. A parte vencedora (aliados de Temer) é que não estava no governo. Haverá algum desconforto, mas não terá expressão nas votações contra o Planalto como ocorria anteriormente.
A reviravolta na eleição do partido é criticada pelo deputado Mendes Ribeiro Filho. Ainda recuperando-se da cirurgia que realizou para retirada de um tumor cérebro, o deputado anuncia que estará ausente em Brasília:
– Fazer convenção para quê? Antes, seria uma convenção na qual iríamos discutir e votar. Passou a ser um momento comemorativo não sei do quê, e me reservo o direito de não ir.
Desanimado, o presidente estadual do partido, senador Pedro Simon, acredita que não haverá debates relevantes na convenção. Em fevereiro, o senador subiu à tribuna do Senado para lançar a candidatura de Nelson Jobim. Simon comparecerá ao evento para votar, mas pretende ter participação discreta no encontro.
– É muito triste para quem esperava uma renovação do partido. Imaginávamos ter, pela primeira vez, um partido coeso. Mas aquele projeto está morto – afirma.
ZERO HORA