| 27/01/2007 17h07min
Depois de uma legislatura em que deputados repartiam malas de dinheiro e destinavam recursos públicos à compra de ambulâncias superfaturadas, a posse da nova Câmara, quinta-feira, será marcada pela simplicidade.
Os gastos com a solenidade estão previstos em R$ 8,7 mil, uma ninharia perto do bilionário orçamento da Casa – R$ 3,4 bilhões em 2007. Aos convidados, será servido apenas água.
A economia tenta induzir uma mudança na imagem da Câmara, desgastada após os escândalos de corrupção e a tentativa de aumento de 91% nos salários dos parlamentares. Embora o índice de renovação dos deputados tenha sido de 46%, superior ao das últimas duas eleições (1998 e 2002), muitos sanguessugas e mensaleiros continuarão flanando pelos corredores. Dos 513 eleitos em outubro, 55 respondem a processo ou estão sendo investigados por algum tipo de crime. Respaldados pelas urnas, eles agora desfrutam de foro privilegiado e só podem ser processados no Supremo Tribunal Federal.
– Isso afeta a credibilidade da Câmara. A imunidade parlamentar quase isenta os deputados de prestar contas do mandato. Depois da eleição, os eleitores não têm como influenciar – avalia a doutora em Ciência Política e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Maria do Socorro Braga.
Entre os denunciados pelo Ministério Público, apenas Antonio Palocci (PT-SP), José Genoino (PT-SP) e Paulo Maluf (PP-SP) não integram a legislatura que está se encerrando. Juntos, eles amealharam quase 1 milhão de votos. Dono da maior votação do país, Maluf chegou a ficar 10 dias preso em setembro de 2005, acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão fiscal. Ex-ministro da Fazenda, Palocci é suspeito de ordenar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e de irregularidades na prefeitura de Ribeirão Preto.
Genoino avalizou os empréstimos bancários que financiaram o valerioduto e teria chefiado o esquema do mensalão. De volta à Câmara, os três devem manter um comportamento discreto no início do mandato.
Também chegam ao Congresso o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes - eleito deputado federal pelo PPS (CE) - e dois personagens que tiveram os destinos cruzados em 1992: Fernando Collor (PRTB-AL) e Ibsen Pinheiro (PMDB). O primeiro renunciou à Presidência após a aprovação do processo de impeachment e agora se tornará senador. O segundo comandou a sessão na qual foi aprovado o impeachment, foi cassado mais adiante e agora retorna à Câmara.
ZERO HORA