| 07/12/2006 11h38min
O jornal francês Le Monde acusou Barcelona, Real Madrid, Valencia e Bétis de procurarem o médico Eufemiano Fuentes, suspeito de ser o cabeça de uma grande rede de doping no ciclismo. Embora Fuentes não tivesse ligação alguma com os clubes em questão, o jornal afirma, em reportagem desta quarta, que ele dava instruções a Barça e Real Madrid para tratamentos através dos departamentos médicos das equipes, e que recebia a visita de alguns jogadores em seu consultório.
O Le Monde baseia as acusações em documentos confidenciais feitos à mão pelo próprio Fuentes sobre os planos de preparação destas quatro equipes para a temporada 2005-2006. A publicação alega ter tido acesso aos papéis.
Perguntado pelo diário sobre suas relações com Barcelona e Real Madrid, Fuentes limitou-se a dizer:
– Ameaçaram-me de morte. Se eu disser certas coisas, minha família e eu poderíamos ter graves problemas. Fui ameaçado três vezes, e não vão me ameaçar uma quarta – afirmou.
Os documentos em posse do jornal, similares aos revelados pela polícia espanhola sobre os ciclistas, mostram uma série de siglas e sinais que apontam que a utilização de produtos dopantes era recomendada por Fuentes.
Segundo o jornal, o documento sobre o programa da temporada 2005-2006 do Barça está elaborado para responder ao objetivo principal do clube (a Liga dos Campeões, conquistada em maio) e os compromissos dos jogadores por suas seleções (a Copa do Mundo).
Os papéis mostram ainda sinais correspondentes a períodos de preparação ou de recuperação em função destes jogos e do calendário do Campeonato Espanhol. De acordo com o jornal, as instruções codificadas são as mesmas encontradas nos planos feitos por Fuentes para os membros da equipe de ciclismo Liberty Seguros, indiciada na chamada "Operação Puerto".
Entre os sinais apresentados, um círculo significaria o consumo de esteróides anabolizantes, enquanto um "IG" corresponde a um precursor do hormônio do crescimento. Conforme a reportagem, os jogadores se beneficiavam também de um acompanhamento personalizado, que podia justificar uma intervenção médica em caso de lesão ou fadiga.
O motivo de as autoridades ainda não terem encontrado os documentos é que só foram revistados até agora os apartamentos de Fuentes em Madri – a residência principal do médico fica nas Ilhas Canárias. Em sua entrevista ao Le Monde, Fuentes vai mais longe ao afirmar que eles têm menos defesa que outros.
– Há esportes contra os quais é possível ir e outros não, já que dispõem de um aparelho legal muito potente para se defender. Isso poderia custar também seu o posto de quem rege o esporte atualmente – disse o médico sem dar mais detalhes.
Entre seus clientes, segundo Fuentes, não havia só ciclistas, mas também tenistas, jogadores de futebol, atletas de basquete e boxeadores. Porém, ele mantém em segredo as identidades em nome do sigilo médico. Ele descartou ter cometido crimes contra a saúde pública, como está sendo acusado pela justiça espanhola, já que nenhum de seus pacientes teve problemas.
Para Fuentes, o verdadeiramente perigoso para a saúde é o esporte de alta competição, qualificando de criminosos alguns calendários esportivos ou a organização de eventos em benefício do espetáculo.