| 14/08/2006 12h04min
O jornalista da Globo Guilherme Portanova falou hoje, em entrevista à Rádio Gaúcha, que chegou a negociar a própria morte com os bandidos que o seqüestraram em São Paulo. Segundo ele, logo no início do seqüestro, ele e o auxiliar Alexandre Calado, que também havia sido levado de uma padaria perto da emissora no sábado pela manhã, ele pediu que, se fossem matá-lo, que fosse sem dor e com um tiro só.
– O fantasma do Tim Lopes era muito forte – afirmou.
Portanova disse que, durante o cativeiro, pensou em abandonar a profissão.
– Primeira coisa que pensei foi comprar um sítio numa cidade pequena, nunca mais ligar jornal, TV, rádio, nada, e desaparecer – afirmou, dizendo que mudou de idéia depois da libertação, ao ver a mobilização e a ação do sistema de segurança da emissora.
– Por pedido meu e exigência da Globo, eu vou sair de férias, devo ir a Porto Alegre, devo ir também a Florianópolis, onde também trabalhei, e depois vamos discutir o que eu farei, porque quando ocorre algo assim é normal sair de circulação – explicou Portanova.
O repórter disse, que, no começo, não ficou claro qual era o objetivo da ação, que parecia um seqüestro normal. Mais tarde, os bandidos disseram que precisavam de um favor.
– Queriam um favor, queriam divulgar a versão deles, e que precisavam de ajuda – contou o jornalista, dizendo que os criminosos reclamaram de maus-tratos e disseram ter medo de morrer dentro das prisões.
Além do momento em que negociou a própria morte, Portanova disse que a hora mais tensa foi quando ele foi transferido para um segundo cativeiro, por volta das 22h30min de sábado. Ele disse que, apesar de estar vendado e encapuzado, percebeu estar em um lugar aberto, como um gramado. Um dos bandidos teria dito a ele que ia matá-lo por ele estar entregando os “irmãos” e só não foi adiante porque, ao pedir autorização a um outro homem para a execução, esta foi negada.
– O outro disse que não, “esse aí é da chefia, não toca nele que tu vais te incomodar” – disse Portanova, que depois disso, passou a ser informado dos andamentos das negociações.
– Em nenhum momento me agrediram, tinha comida o tempo inteiro, embora eu não conseguisse comer, e todo o tempo eles me davam a informação de que eu ia ser solto, que eu não ia morrer.
Outro momento tenso foi, de acordo com Portanova, quando ele percebeu que uma aranha tinha caído dentro da roupa dele (ele estava amarrado a uma árvore).
– Eu dei um pulo e levantei rápido – contou, dizendo que, em seguida, o homem que cuidava dele encostou um cano de arma no peito dele e que, se ele pulasse daquele jeito novamente poderia morrer, já que a ação poderia ser confundida com uma tentativa de fuga.
Segundo o jornalista, a demora na sua libertação, mesmo após a divulgação das imagens, ocorreu porque os seqüestradores queriam a divulgação do material também no Fantástico.