| 28/07/2002 18h42min
Com aumentos que chegam a 50% desde a assinatura do contrato, em 1996, a distribuição de gás natural da Bolívia se transformou no calcanhar de Aquiles dos principais setores produtivos do Estado. Quem aderiu acumula prejuízos ou vê a margem de lucro ser reduzida a cada reajuste. Os que ainda não dependem do combustível estão desistindo de fazer a conversão. Hoje, 60 grandes clientes catarinenses consomem diariamente 800 mil metros cúbicos do gás boliviano.
Enquanto isso, a distribuidora catarinense, SCGás, luta para reduzir o preço, regulado pela cotação do dólar e que no primeiro dia de julho teve um reajuste de 5%. Só este ano, o gás natural aumentou 7,1%. O presidente da SCGás, Luiz Gomes, explica que a Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás, que representa 16 empresas no país, quer uma redução de 20%. No ambiente internacional, uma comissão negocia com os bolivianos. O principal argumento é de que a capacidade de 30 milhões de metros cúbicos por dia do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) vai demorar a ser atingida se o preço continuar alto. Por enquanto, são transportados apenas 12 milhões de metros cúbicos.
No entanto, Gomes destaca que o gás natural é responsável apenas por um terço do preço final do combustível. Os outros dois terços são custos de transporte. A Petrobras, dona de 51% dos dutos, paga o frete em dólar, mas pela cotação do primeiro dia do ano. Em dezembro, ela joga o aumento acumulado no preço cobrado das distribuidoras. Outra reivindicação feita à Petrobras é de que alguns custos poderiam ser cobrados em reais já que a manutenção do frete não é feita em dólar e portanto não sofre as oscilações da moeda norte-americana.
Uma alternativa ao gás natural boliviano é o produto nacional, cujo preço é 67% menor. O detalhe é que ele não chega à Região Sul. Outra saída, de mais longo prazo, é a concorrência com o gás natural da Argentina. O combustível argentino pode chegar ao Estado através do gasoduto projetado para ligar Uruguaiana a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A ligação de Santa Catarina ao Gasoduto da Integração seria feita pela região.
SIMONE KAFRUNI / DIÁRIO CATARINENSE