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 | 20/07/2006 07h

Moradores vivem expectativa em Tel-Aviv

Front é ao mesmo tempo tão perto e tão distante da cidade

Imagine-se em Porto Alegre e os foguetes caindo sobre Tramandaí, no litoral norte gaúcho. É esta relação, pelo menos por enquanto, que os moradores de Tel-Aviv têm com o conflito com o Líbano, que entrou ontem no seu oitavo e mais sangrento dia. O front é ao mesmo tempo tão perto e tão distante.

Perto porque os mísseis Katiusha lançados pela guerrilha libanesa do Hezbollah estão matando israelenses a uma distância de 140 quilômetros de Tel-Aviv. Distante porque basta desligar a TV ou o rádio e ir tomar sol na belíssima praia de frente para o Mar Mediterrâneo para esquecer a violência.

Ontem à tarde, por exemplo. Eram 17h45min em Israel (11h45min em Brasília). O calor do verão no Oriente Médio sufocava. Enquanto analistas militares especulavam na TV sobre a possibilidade de o Hezbollah ter um míssil capaz de atingir Tel-Aviv, centenas de israelenses e turistas se divertiam à beira-mar. Jogavam futebol, vôlei e frescobol na areia. Havia até um grupo de idosos dançando ao som de ritmos caribenhos. No calçadão, cujos desenhos em azul lembram os de Copacabana, no Rio, jovens tomavam cerveja de frente para o pôr do sol.

A cidade funciona normalmente, apesar da expectativa de um conflito que não dá mostras de terminar. Lojas estão abertas, o trânsito é pesado e o vaivém do trabalho para casa é intenso. O único indício de guerra são os helicópteros com artilharia que sobrevoam a orla. Em 30 minutos, 14 cruzaram o céu à tarde. Além de dois caças F-16.

– Todo o mundo está tranqüilo. Mas há um certo desconforto quando se toca no assunto – explicou o paulista Michel Homsi, 23 anos, há cinco meses morando em Israel.

O desconforto pode se transformar em tensão em segundos. Todos em Tel-Aviv sabem que se as sirenes de alerta dispararem terão um minuto para procurar o abrigo antiaéreo mais próximo. Michel, que ontem à tarde acompanhava os pais, Carlos Alberto e Regina, em um cibercafé a duas quadras do mar, estava preparado para uma emergência.

– Se tocar a sirene neste momento, corro para praia. É o melhor a fazer – ensinou.

Na falta de tempo suficiente para buscar um abrigo, a faixa de areia seria o lugar mais seguro contra os mísseis do Hezbollah. Disparados a esmo pelos guerrilheiros, eles mataram só ontem duas crianças na cidade sagrada de Nazaré, ao Norte. A guerrilha, que seqüestrou dois soldados israelenses – detonando a atual crise –, responde com os foguetes aos bombardeios de Israel. Ontem, pelo menos 57 libaneses morreram nos ataques – 56 civis e um membro do Hezbollah.

Distante do front, mas na mira da guerrilha libanesa por ser a capital econômica e cultural de Israel, Tel-Aviv espera pelo pior. Em caso de um ataque, o norte da cidade, seria o primeiro alvo. Praticamente todos os prédios de Tel-Aviv têm o bunker coletivo. Outros, construídos na época da Guerra do Golfo, quando os mísseis de Saddam miravam o país, têm um abrigo em cada apartamento. É o caso do prédio de três andares da Avenida Ben Yehuda, onde Michel mora. Uma coluna vertical blindada, construída no centro do edifício, perpassa todos os apartamentos. O brasileiro usa o local, fechado com uma porta de aço, como quarto. Mas desde que trocou Santos por Tel-Aviv, nunca precisou usá-lo como abrigo. A sirene nunca tocou.

A família defende a ofensiva israelense.

– Israel zela pelos seus soldados – disse Carlos Alberto, que chegou ontem a Tel-Aviv com a mulher.

O casal pensou em cancelar a viagem por causa da violência, mas a missão era mais importante.

– Vim aqui porque quero levar meu filho de volta para o Brasil – explicou Carlos Alberto.

RODRIGO LOPES/ENVIADO ESPECIAL
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