| 05/06/2006 19h47min
Aos 40 anos, o gaúcho Carlos Eugênio Simon chega à sua segunda Copa do Mundo. Mas está vibrando como se fosse a primeira. Passa os dias preparando-se para a estréia, no dia 12, na partida entre Itália e Gana. Além de procurar cuidar do lado técnico e psicológico, cuida intensamente do preparo físico. Para isso, corre todos os dias, em dois turnos, no belo e extenso (e por estes dias gelado) gramado do hotel próximo de Frankfurt em que a Fifa confinou os árbitros. Também lê muito e escuta MPB e músicas gaúchas.
Simon é um dos mais experientes do grupo de juízes escolhidos para a Copa – comenta-se até que tem chances de dirigir a final, se o Brasil não estiver nela e se ele for bem nos jogos anteriores –, que este ano estarão sob pressão ainda maior, em função de escândalos recentes envolvendo a arbitragem em vários países e até por causa dos graves erros que mancharam um pouco o Mundial anterior, quatro anos atrás, na Coréia do Sul e no Japão.
O brasileiro garante, porém, que eles e seus colegas estão “muitíssimo bem preparados”, conforme disse à Agência Estado nesta segunda, em entrevista concedida sob as árvores do gramado do Kempinski Gravenbruch. Simon admitiu que andou desconcentrado nos últimos meses e que por isso cometeu alguns erros graves em jogos do Campeonato Brasileiro, mas garantiu que a ansiedade pré-Mundial já passou.
Agência Estado – Como está sendo a preparação dos juízes?
Carlos Eugênio Simon – O treinamento está sendo intensivo, tanto na parte física quanto técnica e psicológica. Isso é fundamental e os árbitros estão muito bem preparados. A Fifa está investindo muito na arbitragem, fazendo um grande acompanhamento desde o ano passado e tenho certeza de que vai ser uma grande Copa do Mundo em termos de arbitragem.
AE – Qual a principal recomendação dada aos árbitros?
Simon – O importante, acima de tudo, será coibir o jogo brusco grave, a conduta
violenta, defender o fair play, o jogador habilidoso,
técnico, o artista.
AE – O que muda para você em relação à primeira Copa?
Simon – Muda em termos de experiência. Estou mais maduro, sereno, tranqüilo, tenho tudo para arrebentar a boca do balão.;
AE – Em alguns jogos do Brasileiro deste ano, sua atuação foi bastante criticada. Parecia desconcentrado, por causa da Copa. Era isso?
Simon – Tem a ver sim. Isso faz parte, eu estava um pouco com a cabeça direcionada para a Copa do Mundo. Não tem como não ficar, isso acontece com árbitros, jogadores. Somos seres humanos. Assim, um ou outra desatenção minha naqueles jogos gerou determinadas críticas, até porque um árbitro que vai para a Copa é mais cobrado.
AE – Os seguidos escândalos envolvendo a arbitragem, como os que aconteceram na Alemanha, Bélgica, Itália, e mais recentemente no Brasil, aumentam a responsabilidade?
Simon – Sem dúvida.
No caso do Brasil, por exemplo, o pessoal pergunta o que aconteceu (Edílson Pereira de
Carvalho e Paulo José Danelon admitiram no ano passado que manipulavam resultados). A responsabilidade aumentou. A arbitragem brasileira é muito competente e nós vamos aqui a dignidade, o respeito, a honestidade do árbitro brasileiro.
AE – Você vai apitar Itália e Gana (dia 12, em Hannover). Esse escândalo que envolve jogadores, dirigentes e juízes italianos pode ter alguma interferência no seu trabalho? Você pode encontrar jogadores mais tensos, por exemplo.
Simon – Acho que não. Os jogadores sabem da minha experiência e o que vale no jogo é aplicar a regra com justiça, serenidade. Sem dúvida nenhuma é um grande jogo por toda tradição e história que envolve a seleção italiana e, por outro lado, tem Gana, que é estreante, mas uma seleção competente.
AE – Tal qual o Benito Archundia (mexicano que vai apitar Brasil e Croácia)?
Simon – É bom árbitro, apitou a final do Mundial Interclubes entre
São Paulo e Liverpool, é um sujeito experiente e tenho
certeza de que vai fazer um bom trabalho.
AE – Como você passa o tempo aqui neste hotel, afastado de tudo?
Simon – Nas horas em que não estou trabalhando preparo meu chimarrão, meu mate que me acompanha sempre, ouço músicas gaúchas e dou uma caminhada pela grama, refletindo, pensando na minha esposa, nos meus quatro filhos, para me dar mais forças para me manter.
AE – Você também trouxe alguns livros...
Simon – Trouxe, um do Frei Betto (A Mosca Azul – Reflexão Sobre o Poder), um do Luís Fernando Verissimo. E também trouxe CDs do Fágner, do Chico Buarque, de músicas gaúchas... Tenho lido bastante.
AE – E o relacionamento com os outros árbitros?
Simon – Eu converso com todos. Muitos me procuram, pois sou um dos mais experientes, querem saber como é apitar uma Copa do Mundo. Tem muitos árbitros novos aqui. Isso demonstra a
importância da arbitragem brasileira.