| 26/04/2006 07h
O vigilante Márcio José Ramos, 35 anos, teve alguns segundos para decidir que rumo daria ao seu futuro. Nas mãos, um envelope recheado com US$ 6 mil (R$ 12,7 mil), encontrado no campo de golfe do Porto Alegre Country Club. E, na consciência, o dever de entregá-lo ao verdadeiro dono, um praticante do esporte.
Chegou a pensar que, com o dinheiro, poderia quitar suas dívidas e reformar a casa de quatro peças onde mora com a mulher Ladi e dois filhos, em um beco da Vila Esperança, na entrada de Porto Alegre. Para obter este valor, Ramos precisaria trabalhar dois anos e nove meses.
– Não vou mentir. Fiquei com o anjo e o diabo falando na minha cabeça. Um dizia para eu pegá-lo, mas o outro me convenceu que o certo era devolvê-lo – conta.
Ao ver o possível proprietário se distanciando do local, Ramos correu em sua direção e entregou o envelope. Tudo em menos de cinco minutos, e não esperou nada em troca.
Sentiu, apenas, um alívio e a satisfação de ter cumprido o seu dever de vigilante e, principalmente, de homem honesto. Do dono do dinheiro, recebeu um agradecimento.
– O cara lá de cima pode até escrever por linhas tortas, mas farei de tudo para que a minha história, no final, fique certinha – diz.
O vigilante não imaginava que o gesto pudesse lhe trazer tanta dor de cabeça entre os amigos, colegas de trabalho e vizinhos do beco onde mora. Quando contou o que havia ocorrido, tornou-se alvo freqüente de piadas.
– Disseram que ele foi um idiota por ter devolvido o dinheiro. Ele ficou abatido, mas continuou afirmando que havia cumprido o seu dever. O Márcio (Ramos) é um homem bom – orgulha-se Ladi.
Depois de ficar desempregado nos últimos dois anos, o ex-eletricista Ramos trabalha há três meses na empresa de segurança que presta serviços ao Porto Alegre Country Club. Quer melhorar de vida para deixar o beco onde vive com a família há seis anos.
– Poderia ter tirado os meus filhos do meio dos ratos com aquele dinheiro. Mas não seria justo ficar com algo que não era meu. Estou dormindo com a consciência tranqüila – conclui.
ALINE CUSTÓDIO/DIÁRIO GAÚCHO