| 21/04/2006 12h26min
Como jogador, ele era um atacante rápido, habilidoso e inteligente. Como técnico, foi campeão por onde passou e ganhou a fama de chato, exigente e disciplinador. Em comum nas duas carreiras, a busca incessante pela vitória. Assim podemos resumir a vida de Telê Santana, morto às 11h30min desta sexta, aos 74 anos, em decorrência de uma grave infecção, que teve início no intestino grosso. Os detalhes sobre o velório e sepultamento ainda não foram divulgados.
Depois de superar uma isquemia, um derrame, a depressão e a amputação de parte da perna esquerda, Telê foi internado na CTI do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, há 28 dias. Com dificuldades para respirar e uma forte dor abdominal, foi sedado e entubado. Segundo o médico José Olinto Pimenta Figueiredo, responsável pelo atendimento, lutou até o final com muita “garra”. Como legado, deixou quase 50 anos dedicados ao futebol.
Nascido em Itabirito (MG), Telê começou a carreira aos 14 anos, como goleiro do Itabirense. Já convertido em atacante, foi descoberto pelo Fluminense quando atuava no São João Del Rey, cujo técnico e presidente era o seu pai. Assinou seu primeiro contrato profissional em fevereiro de 1951, sagrando-se campeão carioca no mesmo ano. Por causa do corpo franzino, ganhou o apelido de “Fio da Esperança”, em referência ao título de um filme em cartaz em 1952.
Telê permaneceu no tricolor carioca por mais 12 anos, transferindo-se depois para Guarani, Madureira e Vasco, antes de parar de jogar, em 1965. Dois anos mais tarde, ele voltou às Laranjeiras e iniciou sua carreira de técnico nas categorias de base. Em 1969, assumiu o time profissional como interino, sagrou-se campeão carioca e foi efetivado no cargo. Venceu também outros três importantes estaduais do país: o Mineiro (Atlético-MG), o Paulista (São Paulo) e o Gaúcho (Grêmio).
Já consagrado, Telê foi convidado para assumir a Seleção Brasileira em 1980. Dois anos depois, na Copa da Espanha, encantou o mundo com uma equipe ofensiva que buscava o gol durante os 90 minutos e até hoje é lembrada como a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos. Ironicamente, o time que contava com jogadores como Falcão, Zico, Sócrates e Cerezo acabou sendo eliminado pela Itália de Paolo Rossi e voltando mais cedo para casa.
O fracasso alterou a relação da torcida brasileira com Telê, que passou a ser conhecido como pé-frio. Mas depois de uma passagem pela Arábia Saudita e apesar da reputação, o treinador voltou ao comando da Seleção em 1985, no lugar de Evaristo de Macedo. O time vinha mal nas eliminatórias para a Copa do México, mas Telê deu novo ânimo ao scratch verde-amarelo e conseguiu a classificação.
Mais uma vez, no entanto, o destino pregou uma peça em Telê. Depois de vencer os três jogos da primeira fase sem sofrer um gol sequer e atropelar a Polônia nas oitavas-de-final, o Brasil cruzou com a França de Michel Platini. Careca abriu o placar, mas o craque francês empatou. Na prorrogação, Zico perdeu uma penalidade. Sócrates perdeu outra na decisão por pênaltis, e o Brasil voltou outra vez para casa sem a taça.
Amaldiçoado pela torcida brasileira, Telê só se desfez da fama de pé-frio quando assumiu o São Paulo, em 1990. No Tricolor do Morumbi, ele construiu uma trajetória de conquistas jamais equiparada por qualquer outro técnico brasileiro. Foi bicampeão paulista (1991 e 1992), campeão brasileiro (1991), bicampeão mundial interclubes (1992 e 1993), bicampeão da Copa Libertadores (1992 e 1993), bicampeão da Recopa Sul-Americana (1993 e 1994), campeão da Supercopa (1993) e campeão da Conmebol (1995).
Depois de atingir a glória no São Paulo, Telê foi obrigado a abandonar o futebol por problemas de saúde. No início de 1996, um exame de rotina revelou a existência de uma isquemia cerebral. Diabético e com dificuldades de fala e locomoção, se recolheu e foi viver com a esposa e os dois filhos em Belo Horizonte. Teve depressão profunda e, em 2003, parte da perna esquerda amputada por conta de uma nova isquemia. Influenciou não só a maioria dos técnicos brasileiros como também seu filho, Renê Santana, a seguir a carreira de treinador.